Fazer uma boa
análise de negócios é como preparar um bom prato de refeição. Exige habilidade,
técnica e conhecimento de seus ingredientes. Quando falo de "fazer uma boa
análise de negócios" me refiro ao trabalho de compreender, na essência, as
necessidades reais do negócio e apontar o que realmente deve ser feito. E,
então? Vamos ver quais são esses ingredientes?
Antes
de examiná-los é importante dizer que, quando escrevi o BABOK v3, junto a um
time internacional de 40 analistas de negócios, criamos o que mais tarde veio a
ser chamado de Modelo Conceitual Central de Análise de Negócios (BACCM -
Business Analysis Core Concept Model). Neste modelo não só encontramos os 6
elementos, mas os principais relacionamentos cabíveis entre cada um deles.
Para
simplificar optei por chamar de problema o motivador de todo esforço de
análise de negócios. Embora em algumas iniciativas o problema possa vir a ser,
na verdade, uma oportunidade que a organização vislumbra. Embora, em sua grande
maioria, o problema seja a causa principal.
No artigo anterior explorei o conceito de
análise de negócios e as principais atividades envolvidas. Se você ainda não
leu o artigo, pare e leia. Sua leitura é
fundamental para entender os 6 ingredientes.
1. Mudanças
O
trabalho de análise de negócios visa produzir mudanças na organização. Uma
mudança nada mais é que uma transformação controlada. Durante essa
transformação, elementos organizacionais são alterados de forma a viabilizar a
satisfação das necessidades declaradas.
Tais
mudanças podem incluir a modificação da estrutura, cultura, processos ou
quaisquer outros elementos da organização que proporcionem o melhor cenário
possível e necessário para que os colaboradores recebam de determinada solução
todos os benefícios esperados.
No
ambiente externo as mudanças que se apresentam também podem representar
problemas que precisam ser endereçados pela organização.
Muito
se tem falado nos últimos anos a respeito da business agility - a
capacidade de uma empresa reagir de forma fluida às mudanças. A capacidade de
sobrevivência de uma organização está diretamente ligada ao desenvolvimento de
sua business agility. O não desenvolvimento dessa capacidade tem levado
empresas como Kodak, Blockbuster e várias outras a bancarrota.
O
ingrediente mudanças nos ajuda a responder a seguinte pergunta: Que tipo
de transformação estamos tentando criar na organização?
2. Pessoas
Apesar
da grande ênfase em processos e tecnologia dada pela literatura especializada,
uma empresa é composta principalmente por pessoas. Pessoas criam produtos e
serviços para pessoas.
Partes
interessadas podem e, certamente vão impactar o entendimento e a solução do
problema. Pessoas têm seus interesses, declarados ou não, e que, portanto,
precisam ser gerenciados. Os interesses, quando bem gerenciados, podem
contribuir para a criação de uma solução mais assertiva.
O
ingrediente pessoas nos ajuda a responder a seguinte pergunta: Quem é
impactado e quem impacta o trabalho de entender e resolver o problema?
3. Contextos
O
contexto abrange todos os aspectos relevantes em um trabalho de análise de
negócios. À medida em que nos aprofundamos na análise, os elementos relevantes vão
sendo melhor compreendidos.
A
cultura de uma empresa é, por exemplo, um aspecto que não pode ser deixado de
lado. Esta revela, entre outras coisas, o grau de reatividade às mudanças. As
pessoas são mais ou menos reativas à mudança? Como elas se comportam quando se
deparam com mudanças? Essas são questões que merecem o escrutínio, pois
oferecem possibilidades de melhoria no processo de análise de negócios.
O
ingrediente contexto nos ajuda a responder a seguinte pergunta: Quais
são os elementos relevantes para compreender e solucionar o problema?
4. Necessidades
Uma
necessidade é o próprio problema ou oportunidade. É essa necessidade que motiva
o esforço de análise de negócios. Necessidades são em sua maioria problemas que
afetam o desempenho organizacional e que precisam ser endereçadas.
O
trabalho da análise de negócios tem início quando pessoas em um contexto
organizacional experimentam as consequências negativas de um problema, ou
vislumbram as consequências positivas de uma oportunidade, e assim justificam a
criação de novas soluções através de suas percepções de benefícios futuros.
O
ingrediente necessidades nos ajuda a responder a seguinte pergunta: O
que estamos tentando resolver?
5. Soluções
Uma
solução pode ser a criação de um processo, a realização de um treinamento, o
desenvolvimento de um sistema de informação, ou seja, tudo aquilo que venha
satisfazer uma necessidade.
Solução eficaz é aquela que cria os
benefícios que justificam o investimento. A recomendação de uma solução sempre
leva em conta que os benefícios percebidos são superiores ao investimento
realizado. Sendo assim, a criação de uma solução somente se justifica quando se
tem uma profunda compreensão dos seus benefícios.
O
ingrediente soluções nos ajuda a responder a seguinte pergunta: O que
precisa ser feito para resolver o problema?
6. Valor
A
palavra valor pode ser entendida como a utilidade ou a importância de algo para
alguém em um contexto. A grosso modo utilizamos a palavra benefícios como
sinônimo de valor, embora esta seja apenas parte de algo maior.
O
valor é percebido, o que significa dizer que nem todas as pessoas visualizam da
mesma forma os benefícios a ser entregues por uma solução. Daí a necessidade de
se trabalhar a visão única e compartilhada do valor a ser entregue.
O
ingrediente valor nos ajuda a responder a seguinte pergunta: Quais são
os benefícios percebidos e esperados pelas pessoas?
Após
termos explorados os 6 elementos fundamentais da análise de negócios, você deve
estar se perguntando: Como esses elementos se aplicam às organizações públicas?
Em uma iniciativa de análise de negócios em organizações públicas, preciso
levar em conta todos os 6 ingredientes?
No
próximo artigo responderei a cada uma dessas questões.
Um
grande abraço!
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