Com o crescimento da web e o uso massivo de tecnologias da informação, a
quantidade de dados gerados e disponibilizados tem crescido exponencialmente.
Neste contexto, é estabelecido um ciclo virtuoso de oferta e demanda, pois o
aumento da necessidade de dados e informações impulsiona o desenvolvimento das Tecnologias
da Informação e da Comunicação (TICs) e consequentemente, a evolução da
capacidade e do volume de ferramentas tecnológicas viabilizou este crescimento
expressivo da produção de dados e informações. Cumpre destacar que na atual
dinâmica mundial, esta demanda por informações passa a se diversificar, seja
pela sua rapidez na sua atualização, na sua distribuição geográfica ou ainda,
em áreas do conhecimento que ainda apresentem carências na produção de
informações a seu respeito.
Este tema passa a ganhar maior relevância quando se é observado os
prognósticos referentes ao volume de dados que serão produzidos nas próximas
décadas. O estudo “A Universe of Opportunities
and Challenges”, desenvolvido pela consultoria EMC [1], aponta que de 2006
a 2010, o volume de dados digitais gerados cresceu de 166 Exabytes para 988 Exabytes.
Conforme a figura 1 existe a perspectiva que o volume de dados alcance a casa
dos 40.000 Exabytes, ou 40 Zettabytes (ou 40 trilhões de Gigabytes).
E o que poderemos fazer com toda esta oferta de dados que não param de
crescer ?
Um importante estudo da consultoria McKinsey,
denominado “Big Data: The Next Frontier For Innovation, Competition
And Productivity”[2] aponta diversos potenciais para o uso massivo de grandes
volumes dados na economia global, atualmente conhecido como Big Data. Segundo o
estudo, existem cinco maneiras grandes em que usando dados grandes podem criar
valor. Primeiro, o Big Data pode ajudar
a descobrir um valor significativo nas bases de dados mediante a geração de informação
transparente e utilizável em muito maior frequência. Em segundo lugar, as
organizações poderão cada vez mais, criar e armazenar dados transacionais em
formato digital, e obter informações muito mais precisas e detalhadas sobre diversas
áreas, por exemplo, equilibrando seus estoques com as perspectivas de venda dos
próximos meses ou semanas e com isto melhorar o seu desempenho.
Em terceiro lugar, Big Data
permite o aprimoramento da relação com os clientes, viabilizando uma extração e
segmentação cada vez maior do perfil dos clientes de uma empresa. Em quarto
lugar, análises sofisticadas pode melhorar substancialmente a tomada de
decisões. E ainda, Big Data pode ser
utilizado para melhorar e criar uma nova geração de produtos e serviços. Por
exemplo, os fabricantes estão usando dados obtidos de sensores incorporados em
produtos para criar pós-venda ofertas de serviços inovadores, como a manutenção
proativa (medidas preventivas que se realizam antes de ocorrer uma falha sequer
são notados).
A Mckinsey prevê ainda que o Big Data poderá apoiar novas ondas de
crescimento da produtividade, estimando um potencial de ampliação das margens
operacionais na casa dos 60%. Ademais, o estudo prevê que o Big Data se tornará um dos diferenciais
para o crescimento das empresas e diferenciação junto à concorrência. Diante de
tais fatos, as empresas estão considerando o uso de grandes bases de dados cada
vez mais a sério.
No campo governamental, especialmente em estudos sobre dados abertos
governamentais, como o guia para abertura de dados do Chile[3], outros
benefícios da oferta de dados são identificados como:
- Melhorar
a eficiência da gestão pública e a qualidade das políticas públicas;
- Agregar
valor as informações e decisões governamentais;
- Fomentar
a inovação mediante a utilização de dados abertos no desenvolvimento de
aplicações e serviços inovadores;
- Promover
o crescimento econômico através de informações ofertadas de forma massiva,
permanente e confiável, a ser utilizada ou transformada para a criação de
novos negócios e melhoria dos serviços de governo;
Tudo bem, as
perspectivas da economia digital e da oferta de dados são muito promissoras,
mas existem problemas relevantes a serem considerados, como:
- Poderá haver uma escassez de talentos necessários para que as organizações possam aproveitar o potencial do Big Data. Em 2018, somente nos Estados Unidos da América, está previsto um gap de 140 a 190 mil profissionais com habilidades para análise de grandes bases de dados diante da demanda existente, e na camada gerencial, a previsão é que o gap seja de cerca de 1,5 milhões de gestores e analistas com o know-how necessário para usar o Big Data como subsidio para a tomada de decisão eficaz; [2]
- Algumas questões devem ser superadas para capturar o potencial do Big Data, como o estabelecimento de políticas para tratamento da privacidade, segurança da informação e propriedade intelectual, bem como a reorganização dos fluxos produtivos para incorporar este novo ativo [2];
- Para a tomada de decisão eficaz, as empresas poderão ter que organizar não apenas as suas informações, mas também consumir cada vez mais as informações de terceiros (como fornecedores, governo, etc.) o que vai resultar num esforço ainda maior para a melhoria da oferta de dados considerando o caráter cada vez mais descentralizado destes recursos de dados [2];
- No que tange a Dados Abertos Governamentais, em 2012, já existiam cerca de 115 catálogos de dados governamentais disponíveis, ofertando cerca de 710.000 conjuntos de dados [4]. Atualmente, em 2015, segundo o DataPortals.org, existem 417 catálogos de dados governamentais abertos disponíveis em todos os continentes, o que comprova a rápida ascensão e distribuição geográfica desta oferta de dados;
- Segundo a IBM[5], 80% dos dados produzidos nas empresas são desestruturados, ou seja, requerem um esforço muito maior para ser aproveitado para subsidiar a tomada de decisão, e certamente, parte destes dados não serão úteis para tal finalidade;
- Quanto ao potencial de uso dos dados digitais do mundo, o estudo da EMC aponta um dado preocupante: Em 2012, apenas 23% da informação digital do mundo é útil para gerar novas informações e conhecimento e apoiar a tomada de decisão no âmbito do Big Data, e deste total, apenas 3% destas informações são úteis para uso imediato (os demais 20% ainda precisam ser tratados para estar aptas ao uso) [1];
- No cenário tecnológico atual, o volume de dados aptos a serem explorados para tomada de decisão (valor analítico) deve alcançar apenas 33% do volume total de 40 Zettabytes [1].
Em resumo, nas perspectivas atuais, 67%
da oferta de dados em 2020 poderão ser inúteis para reuso e apoio a construção
do conhecimento e subsidiar a tomada de decisão e esta oferta de dados estará
cada vez mais distribuída ao redor do globo.
Ou seja, poderemos fazer muita coisa
com estes 40 trilhões de gigabytes ou
simplesmente NADA. Dependerá muito
dos nossos esforços até lá para melhorar a qualidade desta oferta de dados,
tratando os pré-requisitos para a obtenção de valor a partir do seu uso, como
descrito brevemente neste artigo.
Nos
próximos artigos exploraremos questões relevantes sobre os dados na economia
digital, apresentando tendências e ações que estão sendo desenvolvidas no
âmbito global para melhorar a oferta de dados na web e consequentemente
explorar todo o seu potencial para a melhoria da ação governamental,
empresarial, acadêmica, dentre outros.
Até a próxima!!!
*
Artigos apoiados por pesquisas científicas desenvolvidas no Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES), do Instituto de Computação da
Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e contam com a contribuição direta dos
pesquisadores Dr. Ig Ibert Bittencourt (UFAL), Dr. Seiji Isotani (USP), e
Armando Barbosa, Danila Oliveira, Judson Bandeira, Thiago Ávila e Williams
Alcântara (UFAL).
[1] Gantz, John and Reinsel. (2012). David. The Digital Universe In 2020: Big Data, Bigger Digital Shadows, and Biggest Growth in the Far East. EMC Corporation. Acesso em: jul. 2015. Disponível em: http://www.emc.com/collateral/analyst-reports/idc-the-digital-universe-in-2020.pdf
[2] Manyika, James; Chui, Michael; Brown, Brad; Bughin, Jacques; Dobbs, Richard; Roxburgh, Charles & Byers,
Angela Hung. (2011). Big data: The Next Frontier For
Innovation, Competition, And Productivity. McKinsey Global Institute.
Disponível em:
http://www.mckinsey.com/insights/business_technology/big_data_the_next_frontier_for_innovation. Acesso em: jul.
2015
[3] Norma Técnica para Publicación de Datos Abiertos en Chile (2013). Gobierno de Chile. Unidad de Modernización y Gobierno Digital. Disponível em: http://instituciones.gobiernoabierto.cl/NormaTecnicaPublicacionDatosChile_v2-1.pdf. Acesso em: maio. 2015.
[3] Norma Técnica para Publicación de Datos Abiertos en Chile (2013). Gobierno de Chile. Unidad de Modernización y Gobierno Digital. Disponível em: http://instituciones.gobiernoabierto.cl/NormaTecnicaPublicacionDatosChile_v2-1.pdf. Acesso em: maio. 2015.
[4] Hendler, James and Holm, Jeanne
and Musialek, Chris and Thomas, George. (2012). US Government Linked Open Data:
Semantic.data.gov. IEEE Intelligent Systems, p. 25-31, vol. 27. doi:
10.1109/MIS.2012.27.
[5]
IBM. (n.d).Apply New Analytics Tools To Reveal New Opportunities. IBM. Acesso em: jul. 2015. Disponível em: http://www.ibm.com/smarterplanet/us/en/business_analytics/article/it_business_intelligence.html
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