Em Novembro de 2015 tive o prazer de apresentar uma palestra sobre o tema da modelagem de empresas para atender às demandas do mercado no BBC 2015, Conferência Mundial do IIBA, em Las Vegas. Muitos dos conceitos então apresentados, embora focados em empresas privadas, são pertinentes também para as organizações governamentais e empresas públicas.
Modelando a Organização para a Mudança
Já há algum tempo venho trabalhando no desenvolvimento de uma metodologia para ajudar as organizações a responder mais rapidamente às mudanças. Esta metodologia se apoia em três pilares:
- Alinhamento da estratégia com a execução, através do desenvolvimento just-in-time da arquitetura corporativa.
- Uso intensivo de modelos para lidar com a complexidade das organizações atuais, desde o desenvolvimento da estratégia de negócios até a sua implementação na organização.
- Desenvolvimento de uma arquitetura centrada em decisões, que estabelece uma ligação direta entre as estratégias de negócio e as decisões operacionais de negócio que as tornam realidade.
Um diagrama esquemático do desdobramento da arquitetura corporativa, desde os elementos de motivação (e.g., quais são as demandas do ambiente onde atuamos, quais são as preocupações e objetivos das partes interessadas) até o desenho dos diversos domínios da arquitetura (e.g. processos, informações, lógica de negócios) é mostrado abaixo:
Alinhando a Organização, da Estratégia à Execução
Este diagrama mostra que existe um alinhamento de cima para baixo, através das iniciativas de mudança e de implementação das estratégias da organização, e um aninhamento de governança no sentido oposto, onde garantimos que as camadas inferiores estão efetivamente alinhadas com as camadas superiores. Esta abordagem está em perfeito alinhamento com a proposta do FACIN-Framework de Arquitetura Corporativa para Interoperabilidade no Apoio à Governança, atualmente em desenvolvimento e previsto para atuar como uma referência para os diversos órgãos da Administração Pública Federal no desenvolvimento de suas arquiteturas.
Modelando a Organização para a Mudança
No topo da pirâmide de alinhamento, procuramos entender as motivações do negócio (demandas da sociedade) para uma dada iniciativa de mudança. Usando técnicas de análise de ambiente, determinamos as forças e ameaças que estão agindo no ambiente de atuação da organização, e as forças e fraquezas que a organização apresenta para lidar com a situação existente ou vislumbrada para o futuro.
Com base no exercício anterior, procuramos entender quais as opções estratégicas que a organização dispõe para reagir às mudanças nas demandas da sociedade. Aqui, discutimos os diversos públicos que a organização serve, as propostas de valor, produtos e canais de atendimento dos clientes (usuários, beneficiários), os recursos, parceiros e atividades que habilitam a organização para atender estas demandas, e entendemos a estrutura financeira da organização (fontes de recursos, estrutura de gastos).
A estratégia escolhida para organização é a base para a análise das capacidades atuais da empresa, e as lacunas de desempenho que precisam ser preenchidas para habilitar a execução da estratégia. Estas lacunas dão origem e suporte às iniciativas de mudança que irão capacitar a organização para operar no novo ambiente de acordo com a estratégia escolhida. Um mapa de capacidades típico é mostrado abaixo:
A implementação das iniciativas de mudança é governada pelo desenvolvimento da nova arquitetura corporativa da organização, focada principalmente no entendimento da posição futura da arquitetura, e no detalhamento dos programas e projetos de mudança que efetivamente elevarão as capacidades da organização ao nível necessário para a execução da estratégia. Uma metodologia de arquitetura just-in-time e ágil é utilizada para proporcionar a agilidade necessária ao desenvolvimento da nova arquitetura, através de uma abordagem que evite a paralisia da iniciativa de mudança enquanto a arquitetura "é desenhada". O foco é na entrega rápida de valor para a organização, na forma de um roteiro de mudança que forneça resultados de valor com uma frequência adequada para manter as partes interessadas e a organização envolvidos com a mudança, e garantir o suporte da alta administração.
Finalmente, o desenho das diversas soluções é realizado em alinhamento com as iniciativas de mudança definidas no roteiro para a nova arquitetura, focando três dimensões principais: decisões, processos e informações (dados). Aqui, utilizamos o conceito de arquitetura centrada em decisões, que alinha os objetivos estratégicos com as decisões operacionais tomadas no dia-a-dia da empresa, e a partir destas decisões desenvolve os processos e informações necessários para sua execução, garantindo o alinhamento estratégia-execução, e orientando o desenho dos processos, fontes de informação e sistemas.
Percorrer esta pirâmide permite que cada nível superior estabeleça as bases para a implementação dos níveis inferiores, ao mesmo tempo em que promove a governança da implementação da arquitetura em relação aos objetivos e estratégias estabelecidos, e às motivações iniciais das partes interessadas, garantindo, assim, o alinhamento das iniciativas de mudança da organização rumo ao seu futuro almejado.
Modelando a Organização para a Agilidade
Esta metodologia usa intensivamente os conceitos expressos nas melhores práticas da Análise de Negócios, contidas no BABOKv3 do IIBA, International Institute os Business Analysis, e os padrões de arquitetura corporativa TOGAF e ArchiMate, publicados e mantidos pelo The Open Group. A figura abaixo mostra os Seis Conceitos Centrais da Análise de Negócios (BACCM-Business Analysis Core Concepts Model), do IIBA, e mostra como estes conceitos se relacionam em um todo indivisível, cujo conhecimento é necessário para suportar efetivamente, e com altas taxas de sucesso, iniciativas de mudança nas empresas.
O BACCM do IIBA
Cabe ressaltar que a metodologia busca resultados com extrema agilidade, entregando valor para o negócio em iterações curtas, orientadas por conceitos como Mínimo Produto Viável (que oferece o maior valor de negócio com o menor risco), e desenvolvimento de modelos mínimos necessários para suportar as melhores decisões de negócio. Em resumo, busca-se ajudar a organização a responder a uma simples pergunta: o que devemos fazer em seguida? A resposta contínua e iterativa a esta questão permite que as organizações avaliem e reajam rapidamente às mudanças, permitindo-lhes sobreviver e prosperar em um cenário que se vislumbra extremamente volátil e de alto risco à frente.
O desenvolvimento do FACIN-Framework de Arquitetura Corporativa para Interoperabilidade no Apoio à Governança é uma iniciativa crucial neste esforço para dotar os órgãos da Administração Federal de metodologias, ferramentas e melhores práticas para uma melhor prestação de serviços para a Sociedade, com mais agilidade, menores custos, e maior aderência às necessidades dos públicos atendidos.
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