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"Houston?... temos um problema..."

Graças à Internet, acabo de descobrir que a frase do título nunca foi dita (pelo menos, não literalmente). Segundo as gravações entre o centro de operações da NASA e a tripulação da nave Apollo 13, o astronauta Jack Swigert - e não o comandante Jim Lovell - teria dito algo como "tivemos um problema" mas, assim como outras citações famosas nunca realmente pronunciadas ("Toque outra vez, Sam!" e "Luke, eu sou seu pai!"), o que passou para a História foi um pouco diferente do real.

Quando trabalhava na unidade de Qualidade Total da CAIXA, costumávamos usar o filme "Apollo 13 - do desastre ao triunfo", estrelado por Tom Hanks, para reforçar aspectos relacionados a trabalhar com o inesperado e tomar decisões sob pressão. A história daquela missão espacial é fantástica para promover conexão imediata entre o desenrolar dos fatos e eventos vividos por cada um de nós - além de levar ao extremo sensações humanas de ansiedade, expectativa, coragem e várias outras.
Cercada desde o início de maus presságios (por trazer o número treze em seu nome), a missão apresentou um contratempo inicial ainda em solo, quando o piloto Ken Mattingly foi substituído um dia antes do lançamento devido a uma suspeita de rubéola. Falhas na liberação do oxigênio de seus tanques haviam exigido um procedimento que acabou por comprometer a estrutura dos reservatórios e seu rompimento, já no espaço, avariou um dos lados do módulo de lançamento. Ao verem o vazamento do gás pelas janelas, os três astronautas - mais do que compreenderem que teriam de abortar seu pouso na superfície lunar -, conscientizaram-se de que começavam a travar uma luta por sua vida: o oxigênio faltante seria usado para permitir a respiração a bordo, gerar água para beber e refrigerar a nave.
Nesse ponto o filme torna-se frenético: lutando contra o tempo, a equipe de terra recorre justamente a Mattingly para emular as condições dos astronautas em uma réplica terrena da cápsula, enquanto outros técnicos emulam todos os equipamentos e condições existentes no espaço, tentando solucionar questões como: transferir a tripulação para o módulo lunar (economizando recursos do Odissey), retornar ao módulo principal quando da reentrada na atmosfera - era o único que apresentava robustez para o procedimento -, economizar água e calor, adaptar filtros do módulo lunar aos do Odissey usando as infraestruturas disponíveis (os filtros eram feitos em tamanhos e bitolas distintos, não se comunicando naturalmente) e colocar a nave numa trajetória de retorno livre, dando uma volta na Lua e entrando numa órbita que a levaria à Terra.
Como sabemos, o filme - e a missão - tiveram um final feliz, com a chegada em segurança dos astronautas ao Oceano Pacífico.
Quando falo do tema "gestão de processos" e me perguntam acerca da etapa de emulação, é impossível não relembrar a Apollo 13. O uso de elementos reais no "processo de recuperação da nave espacial" - um piloto conhecedor da missão, uma réplica da nave, baterias submetidas a demandas similares ao consumo que havia no espaço, manuais, filtros, fita adesiva, papelão e todos os outros componentes disponíveis no módulo -, foi o grande determinante para o sucesso da iniciativa. Com certeza, se as equipes ficassem presas apenas ao "modelo" constante dos procedimentos, o programa espacial americano estaria contando novas vítimas em vez de condecorando heróis. A falta de uma emulação prévia à implantação do modelo fez com que dificuldades críticas para o caso de uma contingência - como os padrões dos filtros de oxigênio serem distintos entre os módulos Aquarius e Odissey - só fossem percebidas quando de um momento de crise. Por isso, é importantíssimo tentarmos minimizar tais riscos antes da realidade entrar em campo e, em alguns casos, ser tarde demais para correções de rumo.
Quanto a Ken Mattingly,... jamais caiu doente de rubéola.
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