Neste artigo e no próximo apresentaremos como os sistemas de informações geográficas têm avançado para soluções em Cloud, e mais especificamente, como é possível realizar o processamento de imagens de satélite na web e em tempo real.
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1. INTRODUÇÃO
Imagens de sensoriamento remoto de alta resolução vêm
sendo usadas para uma série de atividades de planejamento, monitoramento e
tomada de decisão visando o desenvolvimento sustentável da sociedade. O
satélite chinês de sensoriamento remoto ZY-3 (ZiYuan-3) operado pela empresa estatal chinesa SASMAC (Satellite Surveying
and Mapping Application
Center) é um exemplo de uma nova geração de plataformas com sensores de
alta resolução espacial focados em mapeamento
sistemático e que contribuem para um entendimento mais profundo da superfície terrestre
e sua dinâmica. O ZY-3 foi lançado em 2012 é foi desenhado para mapeamento
topográfico e monitoramento ambiental através de um par estereoscópico de
sensores. Ele carrega 3 câmeras que produzem imagens forward, backward e nadir,
além de um sensor multiespectral com uma banda no infravermelho próximo (FANG
& CHEN, 2012).
Entretanto, manipular e processar estes dados o enorme
volume de dados atuais necessita de profissionais altamente capacitados,
hardware adequado e softwares específicos de processamento digital de imagens
(PDI), o que acaba por dificultar a geração de produtos da informação que
atendam às necessidades dos órgãos públicos e privados. Atualmente se observa
uma forte tendência de utilização da Computação em Nuvem - cloud (BUYYA et al, 2009)
para estruturação de ambientes computacionais que permitam o processamento
remoto de dados de forma segura e simples. Através da cloud empresas e usuários tradicionais são capazes de acessar
aplicações sob demanda em qualquer localidade, a qualquer momento e em qualquer dispositivo (desktop e mobile), com
um esforço mínimo de gerenciamento. Estes avanços têm criado novos paradigmas,
transformando o desenvolvimento de software como nós o conhecíamos e o tornando
algo consumível como serviço (Software as
a Service – SaaS) ao invés de poder ser executado apenas em computadores
individuais. Hoje em dia, é comum acessar conteúdos pela internet sem ter
conhecimento sobre a infraestrutura física que está hospedando tais aplicativos.
Recentemente, estas duas tendências tem convergido,
fazendo com que o processamento digital de imagens possa ser realizado na cloud, através de sistemas de informação
geográfica (GIS, em inglês). na web.
2. OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é simular um ambiente web, onde seja possível realizar o PDI
de forma remota e em tempo real (on-the-fly),
através da cloud, visualizar os
resultados em um Web GIS e permitir que tais resultados sejam acessíveis para
qualquer tipo de dispositivo. Serão utilizados métodos de geração de cache e vínculos dinâmicos para visualização
das imagens do satélite ZY-3, diversas ferramentas de PDI (filtros, realces,
índices de vegetação e outros produtos de valor agregado) também estarão
disponíveis e haverá um catálogo online
de imagens em uma interface amigável e intuitiva. Ou seja, será criada uma
estrutura completa capaz de fornecer Imagens como um Serviço (Image as a Service - Iaas).
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1
Imagens de satélite & Processamento
Digital de Imagens
Sensoriamento Remoto pode ser definido
como a ciência de adquirir, processar e interpretar imagens que registram a
interação entre a matéria e a radiação eletromagnética (SABBINS, 1996). Como dito, um dos principais produtos
do sensoriamento são imagens, geralmente orbitais e que visam a observação da
terra nas áreas de recursos naturais, ocupação humana, planejamento urbano e
regional, dentre outras.
Imagens de satélite são importantes para
diversas aplicações, tais como:
- São um background natural para muitas aplicações GIS, sendo geralmente utilizadas para apoiar a navegação;
- Interpretação direta para extração de feições geográficas, como rodovias, hidrografia, moradias e outros aspectos relevantes da paisagem;
- Fonte para digitalização de mapas vetoriais usando GIS (2D e 3D);
- Validação de dados vetoriais, pois sempre surgem questões sobre a confiabilidade de determinados dados vetoriais e geralmente diferentes imagens de satélite são utilizadas para verificar a consistência destes dados.
Imagens de satélite são a base da
maioria dos mapeamentos realizados através de Sistemas de Informações
Geográficas. Muitas organizações necessitam gerenciar catálogos de imagens de
diversas fontes e que vêm crescendo cada vez mais rápido. Com a grande a
quantidade de dados emergem dificuldades em gerencia-los, processa-los e
distribui-los para seus usuários.
O valor
das imagens de satélite é maior quando um grande número de usuários tem acesso
rápido e fácil a elas. Os procedimentos convencionais de gerenciamento,
processamento e distribuição consomem muito tempo, e os usuários podem ter
dificuldades em acessar e utilizar as imagens sem um software com interface simples.
Quando uma nova imagem é gerada por um sensor, antes dos usuários a utilizarem,
é preciso esperar até que ela seja processada, carregada em um banco de dados e
disponibilizada através de um sistema de distribuição. Este é um processo lento
e oneroso, que pode ser superado a partir da automatização deste fluxo de
trabalho em um sistema na cloud.
Os
requisitos dos usuários de imagens de satélite variam desde necessidades mais
básicas como utiliza-las como um background para visualização, até demandas
mais avançadas como análises estatísticas baseadas nos valores dos pixels. A
lista a seguir demonstra alguns destes requisitos:
Acessar grandes áreas em alta resolução:
usuários devem ser capazes de visualizar grandes áreas em qualquer escala, em
diferentes projeções cartográficas sem precisar selecionar imagens ou tiles específicos.
- Uso múltiplo: usuários necessitam acessar a mesma imagem em aplicações Web e Desktop;
- Rapidez: Imagens devem estar acessíveis de forma quase instantânea em qualquer escala.
- No tempo certo: usuários comumente demandam as imagens mais atuais. Para algumas aplicações, como resposta à desastres naturais, este fator é crítico.
- Metadados: Acesso à metadados sobre as imagens (individuais ou mosaicadas), como data, produtor e parâmetros do sensor são fundamentais.
- Análise: usuários avançados utilizam imagens para análises espaciais e extração automática de feições, em um ou vários momentos no tempo (análises multi-temporais).
O volume de imagens cresce
exponencialmente a medida que se vai derivando subprodutos delas, como
orto-imagens, classificações, segmentações e etc. Mesmo quando já se utiliza
uma imagem processada, existe um custo substancial de tempo, de armazenamento e
financeiro necessários para carregar o conteúdo vindo de um ambiente servidor.
3.2 O satélite ZiYuan-3 (ZY-3)
Lançado em 09 de Janeiro de 2012, o ZiYuan-3 (ZY-3) é o primeiro satélite chinês civil de alta
resolução voltado para mapeamento. A missão é orientada para criação e mapas
temáticos e sistemáticos nas escalas 1:50000 e 1:25000 (GRAÇA et al., 2014; XIAOMING et al., 2013). O satélite possui quatro
sensores, sendo um multispectral e um Pancromático (Nadir), um de visada
frontal (Forward) e outro de visada
posterior (Backward) que permitem a
construção de pares estéreos para geração de modelos digitais de elevação (D’ANGELO,
2013).
As imagens vêm sendo amplamente
utilizadas para mapeamento e topografia, agricultura, floresta, conservação
ambiental, mitigação de desastres naturais, planejamento urbano, navegação,
dentre outras aplicações.
TABELA
1
- PLATAFORMA
|
|
Características
|
Especificações
|
Veículo Lançador
|
CZ-4B carrier rocket
|
Local de lançamento
|
Taiyuan
Satellite Launching Center
|
Carga
|
2630 kg
|
Duração da missão
|
5 anos
|
Ciclo de revisita
|
5 dias (15o de Inclinação)
/ 59 dias no Nadir
|
Altitude orbital
|
505 km
|
Inclinação orbital
|
97.421
|
Horário de cruzamento no Equador
|
10:30 AM
|
Órbita
|
Sol-síncrona
|
TABELA
2
- CÂMERA TRIPLE LINEAR-ARRAY
|
|
Características
|
|
Número de sensores
|
3 (nadir,
forward, backward)
|
Comprimento de onda
|
0.5 – 0.8μm
|
Resolução espacial
|
2.1m (nadir); 3.5m (forward e backward)
|
Distância focal
|
1700mm
|
Área imageada
|
51km (nadir); 52km (forward e backward)
|
Tamanho do Pixel
|
7 μm (nadir); 10 μm (forward e
backward)
|
Campo de visada
|
6º
|
Resolução radiométrica
|
10 bits
|
TABELA
3
- CÂMERA MULTISPECTRAL
|
|
Características
|
|
Número de sensores
|
1
|
Comprimento de onda
|
Azul: 450-520nm
Verde: 520-590nm
Vermelho: 630-690nm
Infravermelho: 770-890nm
|
Resolução espacial
|
5.8 m
|
Distância focal
|
1750mm
|
Campo de visada
|
51km
|
Tamanho do pixel
|
20 μm
|
Resolução radiométrica
|
10 bits
|
Estão disponíveis os seguintes
produtos extraídos do satélite ZY-3, sendo que para este trabalho foram
utilizadas apenas imagens “sensor
corrected”:
1. Sensor corrected: A atitude da plataforma e suas efemérides são aplicadas
à imagem com o objetivo de realizar correções relativas à radiometria e à ótica
do sensor.
2. DOM (Digital Orthographic Map): Correções radiométricas, gemétricas e da ótica do sensor
são aplicadas aos dados. A precisão do produto depende da qualidade dos pontos
de controle de campo ou do modelo digital de elevação utilizado.
3. DSM (Digital Surface Model) & DTM (Digital Terrain Model): O modelo digital de
superfície (DSM) é gerado automaticamente pela combinação das imagens frontais
e posteriores, com resolução espacial mínima de 3.5 metros. A partir de
técnicas de restituição semi-automatizada, também é possível a produção do
modelo digital de terreno (DTM), com o mesmo nível de qualidade presente no
DSM.
4. DLG (Digital Linear Graphic): O Digital Linear
Graphic é o produto resultante da aplicação de técnicas de mapeamento
digital, tais como vetorização estereoscópica em 3D e restituição topográfica.
3.3 Image
as a Service
Existem diversos trabalhos que discutem o
processamento e compartilhamento de imagens de satélite e sistemas de
informações geográficas através de serviços web (DENG et al., 2004; AULICINO, 2006; PICHLER & HOGEWEG, 2009; ZHAO et al., 2012; DENG et al., s.a.). Com os recentes avanços científicos e tecnológicos,
diversas empresas privadas, muitas vezes em parceria com universidades e
institutos de pesquisa têm disponibilizado uma série de ferramentas (I3geo,
MapServer, ArcGIS Server, Geoserver e etc.) que visam suportar este tipo de
demanda. Neste trabalho será utilizado o ArcGIS Server, da Esri Inc., visto que
sua matriz de funcionalidades é mais ampla que os demais produtos existentes,
tendo módulos específicos para processamento digital de imagens.
O ArcGIS Server é um completo sistema de
informação geográfica baseado em servidor. Ele apresenta de forma nativa
aplicações e serviços para gestão de dados espaciais, visualização e análise
espacial. Também permite a publicação e compartilhamento de dados geográficos,
mapas, modelos e etc. Com isto, é possível criar aplicações web, desktop e
mobile consumindo estas informações geográficas (PICHLER & HOGEWEG, 2009).
Com esta ferramenta, é possível criar
uma ampla gama de serviços web, incluindo de imagens. Estas imagens podem ser
armazenadas em um servidor e se tornar diretamente acessíveis via serviços WMS
(Web Map Services), WCS (Web Coverage Services) e KML Services. A possibilidade de utilizar
estes serviços, que são abertos e especificados pelo OGC (Open Geospatial Consortium), faz com que não seja necessário nenhum
tipo de conversão do formato dos dados a serem disponibilizados. Enquanto o
servidor processa unicamente os dados solicitados pelo cliente, o ArcGIS Server
é capaz de realizar reprojeções e comprimir as imagens para serem utilizadas em
redes com baixa largura de banda.
O ArcGIS
Image Extension for Server amplia as capacidades do ArcGIS Server para
permitir gerenciar um grande volume de imagens e também servi-las como
serviços, incluindo metadados detalhados e produtos derivados de técnicas de
PDI. O PDI é realizado de forma instantânea (on-the-fly), sendo possível realizar realces, extração de bandas,
fusão (pansharpening), assim como
correções geométricas, reprojeções, recortes e ortorretificações. Esta
capacidade permite criar diversos produtos a partir de um único conjunto de
dados, sem redundância de informação ou pré-processamento (PICHLER &
HOGEWEG, 2009). O ArcGIS Desktop também possui um plug-in especifico para o
ZY-3 desenvolvido pela Esri China que otimiza diversos processamentos através
da leitura dos metadados das imagens.
Fonte: Gavlak, A. A., Araújo, E. H. G., Graça, L. M. A. IMAGE AS A SERVICE (IAAS):
PROCESSAMENTO DIGITAL DE IMAGENS DO SATÉLITE ZY-3 VIA WEB. In. Congresso Brasileiro de Cartografia, Gramado/RS, 2015.
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