Muito se fala da indolência e ineficiência do servidor
público, mas poucos se perguntam sobre as reais razões que fazem com que essa
realidade se reproduza e gere conseqüências danosas, verificadas na prestação
dos serviços públicos de má qualidade e na pífia atuação do Estado no
desempenho de suas funções.
Os servidores públicos, muitos egressos da iniciativa
privada, ao ingressarem na carreira pública por mais que tenham preconceitos a
respeito da Gestão Pública, passaram por um “funil” apertado e estão certamente
felizes por terem vencido a batalha do concurso público e, em sua maioria, com
um elevado grau de motivação.
Ao receber este novo contingente, o serviço público cumpre
sua cartilha burocrática. O conhecimento arrancado de muitas e penosas horas de
estudo são praticamente deixados de lado. Rapidamente o servidor é treinado
para entrar no molde preestabelecido de sua rotina e a única atitude esperada
dos mesmos é a predisposição para receber essas informações e estar rapidamente
habilitado para reproduzir aquilo que a rígida hierarquia estará pronta e
treinada para cobrar.
A maior parte deste capital humano, colhido da sociedade
através de rigorosos concursos públicos e que deveria ser considerado o maior e
melhor ativo do serviço público é, desta forma, sistematicamente desperdiçado.
Muitos certamente se debatem contra essa estrutura
embrutecedora. Muitos, por esta mesma razão, são perseguidos e “controlados”,
pois o rígido aparato foi idealizado para reprimir qualquer movimento que ponha
em risco a estrutura burocrática construída em tijolos pré-moldados e
cimentados pelos manuais, normas, atos, portarias etc.
Dependendo de seu grau de resistência, o servidor estará, em
pouco tempo, institucionalizado e sem qualquer motivação. Cooptado por uma
carreira estável e por um nível salarial aceitável, deixa suas ambições
profissionais e intelectuais de lado, quando muito se dedicando a um hobby ou
uma atividade paralela que dê vazão a toda energia e criatividade perdida no
local de trabalho.
Estamos vivendo em momento de grandes e rápidas mudanças na
ordem econômica, social, cultural, ecológica. Estamos no limite tributário e
fiscal. Neste contexto, o Estado não pode mais se dar ao luxo de não
transformar esse ativo intelectual em valor para o sociedade.
Existem muitas propostas sendo desenvolvidas e até sendo
implantadas para reverter tal situação. Abaixo exemplos de políticas de Gestão
de Pessoas:
- Diminuição de níveis hierárquicos, capacitando os servidores para emergirem menos chefes controladores e mais líderes facilitadores e gestores de ambientes de negociação e mediação;
- Incentivos financeiros e não financeiros, avaliação de desempenho e movimentação na carreira baseados na produtividade, com metas vinculadas a objetivos traçados em um Plano Estratégico elaborado com a visão do cidadão-cliente (outsidein) e supremacia do interesse público;
- Empoderamento do servidor, onde cada um dos atores dos processos de trabalho é estimulado a pensar, usar sua criatividade e decidir, sempre com responsabilidade e transparência;
- Meritocracia obrigatória para ocupação dos cargos em comissão, através de concursos internos e avaliação periódica, levando em conta a eficiência e eficácia de cada gestor;
- Reconfiguração de controles internos e externos, automatizados e baseados em indicadores de eficiência e eficácia;
- Estímulo a construção coletiva de políticas de Gestão de Pessoas, com fóruns intra e intersetorias;
- Programas de melhoria contínua dos processos de trabalho;
- Programas de Qualidade de Vida no Trabalho.
Essas e outras políticas devem ser discutidas,
problematizadas e veiculadas no bojo de um projeto coerente de novo modelo de
Governança Corporativa, onde as funções de Estado devam estar sendo
desempenhadas em rede, otimizando o uso dos recursos e dos ativos.
Qualquer trabalhador que se sinta parte de uma missão, que
veja seu trabalho valorizado e como parte de um todo, que se sinta mais do que
uma peça em uma engrenagem misteriosa, num ambiente em que o conhecimento, a
confiança e a cooperação sejam valorizados, verá em sua organização um local
onde terá chance de se realizar profissionalmente e, porque não, ser feliz.
A figura folclórica do carimbador de papel que coloca o
paletó na cadeira e sai para “voar” é uma realidade parcial e uma excrescência
de um modelo falido. O contingente de servidores públicos que trabalham duro,
que inovam e querem ver uma Gestão Pública de qualidade é grande e cresce todos
os dias. Esse movimento já está em curso e cada um dos atores (gestores,
servidores, sociedade civil) é responsável por sua materialização.
Até a próxima!
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