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Transparência como estímulo a uma Sociedade mais participativa - Visualização em ambientes com muitos participantes

Hoje vou falar sobre como a Transparência Pública estimula uma sociedade mais participativa e representa um celeiro de ideias e pesquisas interessantes que podem se transformar em “coisas” úteis para estimular uma maior participação da sociedade.

Cenário comum: Todo mundo já reclamou de entrar em um fórum de discussão online, ou em um fórum para discutir uma enquete ou um documento e se deparar com o fato de que 500 pessoas já passaram por lá e deram sua opinião. O que o cidadão normalmente faz? (1) Deixa sua opinião sem sequer saber se já existem opiniões convergentes ou completamente divergentes (e principalmente porquê) ou (2) Lê as opiniões que estão na última página (normalmente uma função de paginação é oferecida para que o sistema web não apresente a “tripa” inteira de entradas no fórum de uma vez) e dá seu veredito.

Quem perde com isso são os dois lados: O lado de quem está promovendo a enquete, avaliação ou discussão de uma ideia, proposta ou documento e o lado de quem tem interesse em participar da discussão.

Essa “discussão política” se caracteriza pela ocorrência de interesses conflitantes relacionados à uma decisão a ser tomada. Participantes dessas discussões precisam se posicionar na discussão, fortalecer uma opinião e influenciar os demais participantes visando favorecer sua visão de solução na tomada de decisão. Os tomadores de decisão, por sua vez, precisam identificar o que é mais popular, mais consensual e mais polêmico, possivelmente encontrando subsídio para sua decisão.

E daí, para alcançar esses objetivos, é desejável identificar rapidamente um conjunto de informações que auxiliem o acompanhamento da discussão.

Existem diversas abordagens que visam tratar de como organizar e apresentar informações que atendam estes fins. E, para isso, essas abordagens precisam entender aspectos como: Quem são os participantes?; Quais fatores moldam as preferências, percepções e posições dos participantes?; Qual a influência de cada participante? Como a posição, a influência e os movimentos de cada participante se combinam para gerar decisões e ações?

Bem, vamos retroceder e pensar em uma das primeiras ações na tentativa de agrupar opiniões que estão fortalecendo ou fazendo uma crítica a algo dito anteriormente: O uso de comentários encadeados. A resposta da resposta! Bobo, né? Mas isso já foi considerado avançadíssimo para a época. Para quem usa Gmail não sei se vai lembrar quando a google disponibilizou a função de aninhar e-mails respostas aos e-mail que foram respondidos, de forma que não precisássemos ficar procurando pelo e-mail original. Chorei de emoção!

Pois, acontece que quando a coisa toda escala, o problema vai crescendo na mesma proporção.

O que fazer quando você se depara com 130 mensagens e precisa entender o que está acontecendo nessa discussão? Eu desanimaria na hora!


A questão é que em um mundo onde diversas pessoas estão dispostas a oferecer sua opinião de forma eletrônica, é necessário tratar os problemas listados abaixo para oferecer transparência para as discussões e fomentar a e-participação: 
  • Quantidade de manifestações e participantes: muitas vezes os envolvidos deixam de se envolver nas discussões políticas porque não conseguem tempo para se envolver ou entender a discussão. 
  • Complexidade da informação: a complexidade da informação que cada participante deseja ou precisa extrair da discussão para compreendê-la e participar é um fator importante, pois pode exigir muito tempo, esforço e ainda resultar em interpretações erradas. 
  • Sistemas de comunicação não oferecem suporte adequado: embora os sistemas de discussão atuais armazenem as manifestações dos participantes, possibilitando a participação assíncrona na discussão e a análise das manifestações enviadas, eles não são suficientes para auxiliar o envolvido a descobrir informações relevantes para o entendimento de discussões políticas. 
Entender essas questões significa que existem duas grandes áreas de pesquisa/desenvolvimento de ideias: 
  1. Métodos e algoritmos para: identificar assuntos correlatos; minerar textos em linguagem natural; identificar opiniões conflitantes; identificar pessoas com as mesmas opiniões; identificar pessoas com opiniões divergentes; identificar o que é uma reclamação, uma sugestão ou somente uma observação; identificar ruídos; identificar assuntos que não tem nada a ver com o objeto em discussão; muitos etc. 
  2. Métodos e projetos de visualização de informações que trata de como mapear dados em estruturas visuais que forneçam poder de análise útil. Isto está ligado ao relacionamento ou evolução desde o DADO passando pela transformação em INFORMAÇÃO, até se tornar CONHECIMENTO incorporado pelas pessoas [1]. De forma simplificada a ideia é que o dado é combinado e processado e produz algo mais complexo que é a informação. Esta, por sua vez precisa ser personalizada e contextualizada para permitir análise e socialização e, dessa forma, promover o conhecimento nas pessoas (sim, são pessoas que geram conhecimento e não papel). 
Quando se pensa na combinação dessas questões é necessário identificar que tipo de método ou algoritmo é mais interessante para apresentar um determinado tipo de informação que tenha o propósito de responder questões específicas. Então dá pra perceber que um mesmo conjunto de informações pode ser representado de diversas formas dependendo do que se quer destacar.
Imagina a representação gráfica abaixo. O gráfico de participação possibilita que o envolvido na discussão política identifique quais os participantes estão mais engajados na discussão. É possível identificar que na primeira discussão, a discussão está sendo centralizada em um grupo pequeno de participantes, enquanto que na segunda discussão, um participante apenas monopoliza a discussão. Já na terceira discussão, a distribuição de manifestações é maior entre os participantes.
Agora imaginem as possibilidades em ambientes como o Participa.Br e outros canais que tem o mesmo objetivo? Além de prover informações relevantes, ambientes que oferecem formas diferentes de visualização de informação costumam conquistar os usuários. 

E é muito simples: conteúdos visuais alcançam o cérebro de um indivíduo de forma mais rápida e mais inteligível do que conteúdo textual. Ou, mais precisamente, o cérebro de uma pessoa é programado para reconhecer e dar sentido para informação visual de forma mais eficiente, o que é extremamente útil considerando que 90% de toda a informação que vem ao cérebro é visual. 

Ou seja, muita coisa interessante e legal para investigar e prover transparência de um jeito visual e convidativo. 

Até a próxima!

Obs.: Esse texto utilizou como base o trabalho de pesquisa da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) que culminou na dissertação de mestrado de Rafael Lage intitulada "Visualizações para Apoiar o Acompanhamento de Discussões Políticas" (2012).

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[1] NONAKA, I. TAKEUCHI, H., Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação, Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1997.

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