O
post anterior abordou o alinhamento das boas práticas de governança corporativa,
extraídas do código do IBGC, às quatro Dimensões de Maturidade: Transparência, Prestação de contas, Equidade e Responsabilidade corporativa.
Neste
artigo vamos explorar os cinco Níveis de Maturidade, elaborados por Pedro
Bramont e João Souza Neto (Universidade Católica de Brasilia) em sua obra Maturidade em Governança Corporativa: Diretrizes para um Modelo Preliminar.
Os níveis de maturidade em Governança Corporativa
propostos são sequenciais e cumulativos. Assim, uma
organização avançaria de forma gradativa, implantando e mantendo implantadas todas
as práticas do nível em que se encontra e dos níveis predecessores. Um
breve descritivo de cada nível é apresentado a seguir.
Nível 1: Iniciado
O primeiro nível, Iniciado,
intuitivamente indica o começo da conscientização sobre governança corporativa
na organização. Práticas básicas são implantadas e, normalmente, partem de
iniciativas isoladas de alguma parte envolvida ou área e visam, em essência,
imitar outras organizações ou atender obrigações impostas externamente.
Nível 2: Expandido
Iniciada a
preocupação com governança corporativa e adotadas algumas práticas, a companhia
observa, mais facilmente, lacunas em seu sistema de governança corporativa. O nível
Expandido é atingido quando algumas destas são supridas.
A influência do tema
governança corporativa expande-se horizontal e verticalmente na estrutura
organizacional, passando a atingir áreas, decisões e temas não cobertos pelas práticas
do nível Iniciado. Além disso, avanços são obtidos a partir da retroalimentação
de algumas das práticas adotadas – situação não observada no nível anterior.
Nível 3: Institucionalizado
Com mais práticas de
governança corporativa simultaneamente sendo executadas na organização,
clama-se por atingir um nível adequado de estruturação, organização e padronização.
Estes são o foco do nível Institucionalizado.
Os principais papéis,
responsabilidades e competências passam a ser formalizados e receber mais
transparência, o que facilita processos decisórios mais estruturados e de avaliação
de desempenho. Atividades relacionadas a governança corporativa, que antes concorriam
com a rotina ou operação do dia-a-dia, são executadas por áreas ou equipes dedicadas
ao tema, o que lhes confere mais qualidade, precisão, previsibilidade, rapidez
e proatividade.
Todas as estruturas
organizacionais eventualmente necessárias já se encontram constituídas e em
funcionamento (tais como comitês de assessoramento ao CA), assim como as
principais políticas corporativas.
Temas como estratégia
e riscos, mais de longo prazo, entram no escopo das práticas de governança
corporativa, ao contrário dos níveis anteriores, mais focados em fiscalizar
atos e decisões relacionadas ao dia-a-dia da companhia.
Nível 4: Aprimorado
Com visibilidade
sobre o que, como e por quem é feito, oportunidades de melhoria ficam mais
evidentes e são perseguidas no quarto nível, Aprimorado.
O ambiente de
governança corporativa começa a exercer uma saudável pressão inclusive sobre a
alta administração, a qual, por sua vez, implementa aperfeiçoamentos nascentes
da retroalimentação gerada pela institucionalização anterior.
Questões relacionadas
à longevidade da organização, inclusive de ordem socioambiental (não
diretamente relacionadas a indicadores econômico-financeiros), começam a ser
consideradas no macro-processo decisório.
Nível 5: Completo
O último nível, Completo,
indica que boas práticas abrangem todos os órgãos de governança corporativa e
são periodicamente revisados em busca da melhoria contínua de todo o sistema.
Torna-se o ambiente
de governança tão sólido e integrado à cultura corporativa que induz os
próprios acionistas controladores, já conscientes do benefício gerado, a
democratizar o poder na companhia.
Neste estágio, não há
órgão de governança que não preste contas sobre seus atos, omissões e decisões,
o que inclui até a remuneração recebida.
Dissemina-se na
organização o sincero desejo de fornecer, às partes interessadas, tempestivamente,
as informações relevantes e/ou desejadas a respeito da companhia, referentes a
curto/médio/longo prazo.
A seguir abordaremos o alinhamento das boas práticas aos níveis de maturidade.
Para
mapear essas boas práticas foi desenvolvido um modelo constituído de dois componentes:
elementos e conexões.
Os elementos são
conceituados de acordo com sua especificidade e são relacionados a outros
elementos por intermédio de conexões.
As conexões são
estabelecidas de acordo com o elo de ligação entre os elementos identificados no
modelo objeto dessa avaliação.
O Modelo em Rede de Maturidade em Governança
Corporativa pode ser acessado em:
Siglas utilizadas nesse artigo: Conselho de Administração (CA), Conselho Fiscal (CF), Governança Corporativa (GC), Assembléia Geral (AG) e Recursos Humanos (RH).
O mapa com as
Práticas do Nível 1 - Iniciado de Maturidade foi desenhado de acordo com a
figura 1.
Figura 1 – Mapa das Práticas do Nível 1 -
Iniciado de Maturidade
O mapa destaca as
conexões do Nível 1 - Iniciado de Maturidade com as seguintes Práticas:
- A companhia possui um CA.
- As demonstrações financeiras são auditadas por auditor totalmente independente da gestão: contratação, destituição, honorários, escopo e avaliação.
- Ninguém na companhia está envolvido em decisão sobre sua remuneração.
O mapa com as Práticas do Nível 2 - Expandido de
Maturidade foi desenhado de acordo com a figura 2.
Figura 2 – Mapa das
Práticas do Nível 2 - Expandido de Maturidade
O mapa destaca as
conexões do Nível 2 - Expandido de Maturidade com as seguintes Práticas:
- A renovação contratual da auditoria independente está condicionada a uma avaliação formal e documentada.
- Há política de alçadas decisórias.
- Há uma área responsável por propor, monitorar e avaliar a adequação dos controles internos, políticas, normas e procedimentos da Companhia.
- O CA monitora a implementação das recomendações referentes a demonstrações financeiras, controles internos, políticas e procedimentos.
- O CF da companhia é permanente.
- O conceito de segregação de funções permeia todos os processos da companhia.
- Os acordos com efeitos societários na companhia estão disponíveis a todos os sócios.
- Os mandatos no CA e na Diretoria Executiva têm tempo determinado e recondução condicionada a alguma avaliação formal de desempenho.
O mapa com as
Práticas do Nível 3 - Institucionalizado de Maturidade foi desenhado de acordo
com a figura 3.
Figura 3 – Mapa das Práticas do Nível 3 -
Institucionalizado de Maturidade
O mapa destaca as
conexões do Nível 3 - Institucionalizado de Maturidade com as seguintes
Práticas:
- A remuneração paga à Diretoria, ao CA e ao CF é divulgada em blocos distintos.
- CA e CF têm orçamentos próprios e autonomia para gerenciá-los.
- Cargos de Diretor-Presidente e Presidente do CA não são ocupados pela mesma pessoa.
- Há canal direto de comunicação com o CA (ouvidoria e/ou canal denúncias).
- Há política de operações com partes relacionadas.
- Há política de prevenção e combate a atos ilícitos.
- Há política sobre atos gratuitos.
- Há políticas de divulgação de informações e uso de informações privilegiadas (insider information).
- Há procedimento sistemático de convocação, realização de reunião e registro de deliberações em AG, reuniões do CA, reuniões do CF e Comitês.
- Há profissional ou área dedicada ao tema GC.
- Há, como um dos comitês de assessoramento ao CA, o Comitê de Auditoria.
- Há, como um dos comitês de assessoramento ao CA, o Comitê de GC.
- Há, como um dos comitês de assessoramento ao CA, o Comitê de RH e remuneração.
- O CA e o CF têm agendas anuais de prioridades e calendário de reuniões.
- O CA é o principal componente do sistema de GC da Companhia e seu principal protetor.
O mapa com as
Práticas do Nível 4 - Aprimorado de Maturidade foi desenhado de acordo com a
figura 4.
Figura 4 – Mapa das
Práticas do Nível 4 - Aprimorado de Maturidade
O mapa destaca as conexões
do Nível 4 - Aprimorado de Maturidade com as seguintes Práticas:
- A composição do CA e a seleção de seus membros são definidas mediante processo estruturado e consideram as necessidades da companhia.
- As metas, avaliação e remuneração da Diretoria Executiva consideram objetivos de curto a longo prazo, incluindo aspectos socioambientais.
- Cabe ao Diretor-Presidente a indicação dos Diretores e a proposição de suas remunerações para aprovação do CA.
- Há direito a voto para todas as ações.
- O CA estabelece e monitora o plano de sucessão para o Diretor-Presidente da companhia.
- O CA promove sessões executivas e apenas seus membros ficam presentes no momento das deliberações.
- O CA revê, periodicamente, seus comitês de assessoramento e as políticas da companhia.
- O Código da Conduta é abrangente e contempla o relacionamento entre administradores, conselheiros, acionistas, empregados, fornecedores e demais partes interessadas (stakeholders).
- O relatório anual de administração é abrangente, tem padrão internacional e é auditado.
- O sistema de controles internos e gestão de riscos são avaliados periodicamente por auditor externo independente.
- Os acordos de acionista arquivados na companhia não restringem os direitos ou competências do CA, CF e/ou Diretoria Executiva.
- Todas as políticas da companhia são deliberadas pelo CA e estão disponíveis publicamente.
- Todos os sócios são estimulados a incluir assuntos e participar das AGs.
O mapa com as
Práticas do Nível 5 - Completo de Maturidade foi desenhado de acordo com a figura
5.
Figura 5 – Mapa das
Práticas do Nível 5 - Completo de Maturidade
O mapa destaca as
conexões do Nível 5 - Completo de Maturidade com as seguintes Práticas:
- A AG estabelece regras e limites sobre participação de administradores da companhia em outros conselhos, diretorias e comitês.
- A remuneração do CA considera o valor econômico gerado, os riscos assumidos e não se baseia em resultados de curto prazo.
- Após 5 (cinco) anos, eventual renovação contratual dos auditores independentes é matéria qualificada de AG.
- As operações com partes relacionadas são aprovadas em AG por quórum qualificado.
- Em alienação de controle, há direito de venda conjunta para todos os sócios em iguais condições.
- Há relatos periódicos (trimestralmente, no mínio) sobre a atuação e desempenho da companhia, e não estão restritos a informações econômico-financeiras.
- Não existem dispositivos que restrinja a substituição dos atuais administradores.
- Não há conselheiros internos no CA, sendo a maioria independente.
- Os acionistas não controladores indicam a maioria dos membros do CF.
- Todos os comitês são coordenados por um conselheiro independente e a maioria de seus membros é composta por conselheiros.
- Trabalhos específicos atestam a qualidade das informações oriundas de controladas, coligadas ou quaisquer outras que sejam refletidas nas demonstrações financeiras da organização.
Excelente insumo para o FACIN. O modelo de Maturidade em Governança Corporativa poderia interoperar com a Governança Pública!
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