Por Antonio Plais
Esta série de postagens discute o Manifesto da Agilidade de Negócio, de autoria de John Zachman, Roger Burlton e Ronald G.Ross (disponível também em Português), e que defende que a agilidade no desenvolvimento de software está longe de entregar a tão esperada agilidade (e os resultados) desejados pelo negócio. O Manifesto é estruturado em torno de um conjunto de Imperativos Gerais de Gestão de Negócio e Princípios que, se adequadamente praticados, podem efetivamente mudar a forma como as organizações funcionam e, por conseguinte, possibilitar a criação de uma operação de negócios ágil e dinâmica
Na nossa postagem anterior, apresentamos os dois primeiros Imperativos Gerais de Gestão de Negócio: Facilitar a Mudança do Negócio e Criar Valor para Clientes, Acionistas, Comunidade, Posteridade etc. Continuamos com mais dois Imperativos.
Imperativo III: Implementar Estratégias de Negócio – Garantir que as Operações do Negócio Implementam as Intenções Estratégicas do Negócio
No mundo globalizado e em rápida transformação de hoje, muitas empresas experimentam dificuldades crescentes para desenhar a sua estratégia. No passado, a Direção da empresa desenhava estratégias de longo prazo totalmente baseadas naquilo que a empresa precisava, e as implementava passo-a-passo, revisando-as regularmente (em geral, em bases anuais) para avaliar os eventuais ajustes necessários. Este tempo de estratégias rígidas e engessadas não existe mais! Mas a importância da estratégia para o sucesso das organizações não diminuiu, pelo contrário, só tem aumentado.
A Revista The Economist conduziu uma pesquisa global em 2013 com mais de 500 executivos, que mostrou que cerca de 88% dos entrevistados acredita que entregar um planejamento estratégico é importante. No entanto, assustadores 61% deles admitiu que suas organizações estavam lutando para preencher a lacuna entre a formulação e a implementação da estratégia. Desta forma, é essencial para as organizações encontrar uma maneira de traduzir a estratégia de alto nível em atividades implementáveis.
O Manifesto de Agilidade de Negócio defende que as decisões e políticas da estratégia de negócio precisam estar explicitamente registradas e interpretadas, para assegurar a transformação correta e a realização das intenções estratégicas na prática. Todas as alterações de negócio devem ser registradas em uma Base de Conhecimento de Negócio (mais sobre isso em uma postagem futura) e alinhadas às estratégias de negócio para que seja possível avaliar o impacto das mudanças e desenvolver as adaptações adequadas.
Além disso, é necessário desenvolver e implementar recursos de tecnologia, e outros recursos, para fazer cumprir as decisões da política de negócio e para detectar violações desta política em operações de negócio, a fim de tomar as medidas apropriadas. Em outras palavras, a organização deve tornar explícita sua lógica de negócios que, por sua vez, está explicitamente alinhada com a sua estratégia de negócios. Dificuldades na tomada de decisão, demora na avaliação dos riscos da mudança, efeitos colaterais (e inesperados) em outras áreas da organização, zonas cinzentas de decisão que são tratadas de forma inconsistente e, muitas vezes, conflituosa, são vários os problemas advindos da falta de uma Base de Conhecimento de Negócio que una a estratégia com a execução.
Imperativo IV. Fornecer Segurança – Segurança Física e Cibernética para Pessoas e Bens
A agilidade do negócio não é perseguida a qualquer custo, ou sem que sejam tomados os cuidados essenciais para garantir a segurança ampla do negócio, tanto dos seus colaboradores e bens, como de sua informação e Base de Conhecimento. Na Era do Conhecimento, cada vez mais a segurança da informação, a garantia da privacidade e a proteção das informações da empresa e de terceiros é fator primordial para a sobrevivência da empresa.
O Manifesto da Agilidade do Negócio recomenda uma análise detalhada e criteriosa das atribuições e autorizações de papéis internos e externos para permitir a visualização, acesso, uso, mudança (etc.) de conhecimento ou recursos do negócio, incluindo dados, processos de negócio, propriedades de negócio (instalações, tecnologia etc.). A transparência das informações e ações da organização não deve ser confundida com o desvelo com a sua proteção, os ativos físicos, intelectuais e informacionais da organização continuam sendo extremamente valiosos e alvos de ataques dos mais diversos (o sequestro de dados - hamsonware - tem sido cada vez mais frequentes, interrompendo as operações de várias empresas e causando prejuízos incalculáveis).
O isolamento físico e a proteção de segurança para pessoas, propriedade intelectual e outros ativos valiosos, conforme o caso, é um imperativo para todas as empresas e, mais ainda, para as empresas de base digital. Os prejuízos com o vazamento de dados e informações, ou com a exposição de dados (pessoais) sensíveis de clientes, vão muito além das eventuais (altas) punições monetárias. A perda de reputação e de confiança do mercado e dos clientes pode significar o fracasso da organização.
Assim sendo, é imprescindível que a organização tenha em funcionamento mecanismos de proteção contra ataques cibernéticos e outras ameaças para informações do cliente e outras informações e conhecimento proprietários para os quais o negócio tenha responsabilidade fiduciária. A agilidade do negócio (ou no desenvolvimento de seus sistemas) não pode servir de desculpa para um ambiente inseguro, desprotegido e exposto a ataques maldosos.
Como podemos observar nestes quatro primeiros Imperativos Gerais da Gestão de Negócio, os autores encaram a questão da agilidade de negócio a partir de um ponto de vista muito mais amplo do que o simples desenvolvimento ágil de software. Como veremos à frente, o Manifesto demonstra que uma empresa ágil é sólida, preparada, segura, pronta para encarar os desafios do mercado com rapidez, mas sem se descuidar da sua sustentabilidade e sem assumir riscos desnecessários.
Ágil, mas não temerária!
Continue acompanhando as próximas postagens desta série.
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