Por Tales Costa
No retorno do blog, volto ao tema tratado em uma série de posts em 2017: o Business Process Intelligence Challenge. O BPIC é um evento realizado anualmente como parte do Workshop on Business Process Intelligence, e tem como objetivo reunir pesquisadores e profissionais na análise de problemas reais de processos de negócio. Cada ano, dados da execução de um processo real são disponibilizados como Log de Eventos para ser analisado pelos participantes. Sempre com objetivo de responder a questões colocadas pelos donos do processo e prover insights adicionais sobre o processo capturado no log.
O BPIC 2017 colocou em análise um processo para concessão de empréstimos a pessoas físicas de uma organização financeira na Holanda. Um total de 23 artigos foram submetidos. E vejam só, o ganhador na categoria Academia foi uma equipe da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) com o artigo “Stairway to value: mining a loan application process”. Além disso, na categoria Estudante participou uma equipe da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ) com o artigo “Using Process Mining Techniques to Support Improvement in a Financial Institution Process”. Parabéns a todos!! E para quem interessar, os trabalhos apresentados estão disponíveis aqui
Agora, o BPIC 2018 traz um novo desafio: um processo do European Agricultural Guarantee Fund para gestão da concessão de subsídios a agricultores alemães. O EAGF financia pagamentos com objetivo de prover aos agricultores uma renda básica independente de sua produção. O processo de gestão dessa concessão é executado anualmente e está sujeito a uma regulamentação complexa baseada em leis nacionais e da comunidade europeia. Cerca de 10% dos casos passam por inspeções no local e, a cada ano, podem acontecer mudanças pontuais no processo devido a alterações na regulamentação.
O Log de Eventos do desafio contém dados extraídos do sistema profil c/s,fornecido pela organização data experts e usado pelo Ministério da Agricultura alemão e departamentos regionais. Este sistema apoia diversos processos administrativos, mas os dados coletados focam na concessão anual dos subsídios aos agricultores, da sua solicitação até a liberação dos pagamentos. No total, o Log cobre um período de 3 anos, abrangendo 43.809 solicitações e um total de 2.514.266 eventos. Na média os casos contém 57 eventos, referentes a 14 atividades distintas, sendo que o menor caso contém apenas 24 eventos e o maior 2.973 eventos. Além dos dados de cada evento, o Log contém também atributos que são parâmetros da solicitação e valem para todos os eventos.
O processo implementado no profil c/s é baseado em documentos, sendo que cada documento possui um ciclo de vida e as ações possíveis de serem realizadas dependem dos “estados” desse ciclo de vida. Em geral, essas ações podem ser executadas manualmente a qualquer momento, por usuário usando ferramentas específicas, ou automaticamente por ações programadas. No Log de Eventos, as ações automáticas podem estar identificadas de forma explicita, ou de forma implícita quando são executadas em lote por um mesmo usuário. O processo envolve até 9 tipos de documentos distintos ao longo do período de 3 anos. Para cada tipo de documento, estão associados um ou mais subprocessos, os quais identificam fases do processo que afetam o documento.
A data experts elaborou 4 questões de negócio que gostariam que fossem tratadas pelos participantes, e que resumimos a seguir:
Questão 1- Resultados indesejáveis: Normalmente um caso é iniciado em abril e encerrado até o final do mesmo ano com os pagamentos dos subsídios concedidos. Entretanto, todo ano ocorrem casos que resultam em resultados indesejáveis:
- Atraso nos pagamentos
- Necessidade de reabrir o caso, por ação do departamento ou objeção legal do solicitante. Pode resultar em pagamentos adicionais ou reembolsos;
Questão 2- Predição de penalidades: Pode acontecer do solicitante não receber o valor total do subsídio solicitado. Isso pode ocorrer por diversas razões, por exemplo: a área declarada da fazenda não corresponde à área real determinada por uma inspeção, ou a solicitação não está em conformidade com alguma outra regra. Um certo número de solicitações são selecionadas, por seleção randômica ou por análise de risco, para passarem por inspeção local.
É possível selecionar uma amostra de forma que seja mais eficiente na descoberta de falhas graves? Seria interessante identificar dependências entre anos diferentes ou evidências estatísticas que o risco de um ano é independente do que aconteceu em anos anteriores.
Questão 3- Diferenças entre departamentos: Os departamentos tem diferenças no processo que podem estar associadas aos problemas referidos nas questões 1 e 2.
É possível caracterizar as diferenças entre departamentos? As diferenças estão realmente relacionadas com os problemas apontados?
Questão 4- Diferenças no tempo: Geralmente o mesmo número de solicitações é tratado a cada ano. O processo deveria ser semelhante a cada ano, mas podem existir pequenas diferenças devido a mudanças na regulamentação ou no sistema de apoio.
É possível caracterizar essas diferenças como desvio de processo?
Finalmente, para realizar sua análise, os participantes podem utilizar todas as técnicas, métodos e ferramentas disponíveis. Como no ano passado, Celonis e Minit disponibilizam aos participantes licenças temporárias dos seus produtos. E claro, além delas estão também disponíveis ferramentas open source como ProM e Apromore.
Para informações mais detalhadas e exatas, inclusive datas limites e informações para acesso às licenças dos produtos comerciais, o melhor é checar o site do BPIC 2018,
No próximo post continuamos no tema examinando o Log de Eventos com mais detalhes.
Até lá
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