Por Antonio Plais
Em 2001, um grupo de proeminentes praticantes e gurus da engenharia e do desenvolvimento de software publicou o Manifesto Ágil. Em uma tentativa de aumentar a taxa de sucesso de projetos de desenvolvimento de software, até então predominantemente gerenciados por meio de abordagens em cascata, o Manifesto Ágil anunciava:
Estamos descobrindo melhores maneiras de desenvolver software fazendo e ajudando os outros a fazer. Através deste trabalho, viemos a valorizar:
Ou seja, embora exista valor nos itens à direita, nós valorizamos mais os itens à esquerda.
- Indivíduos e interações sobre processos e ferramentas
- Software funcionando sobre documentação compreensiva
- Colaboração com o cliente sobre negociação de contratos
- Responder às mudanças sobre seguir um plano
Ao longo destes quase 20 anos, os assim chamados Métodos Ágeis (e.g. Scrum, XP) foram ganhando atenção cada vez maior por parte das equipes de desenvolvimento de sistemas e das empresas dos mais variados portes, ramos da indústria e níveis de maturidade. Exemplos de sucesso (e, também, de insucessos) vêm sendo divulgados, debatidos, copiados ao redor do mundo. Congressos, seminários, treinamentos, consultorias, métodos, ferramentas, toda uma nova economia (?) se formou em torno dos conceitos e das práticas "ágeis", vendidos, muitas vezes, como a solução para todos os problemas das organizações, o "mapa da mina" que finalmente transformaria empresas arcaicas, lentas e pesadas, em saltitantes pôneis vivendo as alegrias das transformações e recompensas da nova economia digital, enquanto experimentavam as delícias do crescimento exponencial.
Nada mais longe da realidade do nosso duro dia-a-dia.
Agilidade do negócio vs Desenvolvimento ágil de software
Como pode ser visto acima, o Manifesto Ágil tem um escopo muito bem definido: "... melhores maneiras de desenvolver software...". Dada a prevalência do uso de software pelas empresas atuais, e a absoluta necessidade de agilidade nesta era da Economia do Conhecimento, desenvolveu-se uma quase unanimidade de que o desenvolvimento ágil de software levaria as empresas a atuarem com agilidade nos seus mercados, capturando e encantando seus clientes, enfrentando as incertezas do mercado com confiança, crescendo e sobrepujando seus concorrentes menos "ágeis". Mas, por que, então, tão poucas empresas estão efetivamente vivendo este nirvana, e por que os resultados efetivos de negócio parecem não surgir, e a tão sonhada agilidade continua sendo um sonho distante?
Em 2017, três dos maiores nomes em suas áreas de atuação (John Zachman, Roger Burlton e Ronald Ross) juntaram décadas de experiência e conhecimento acumulado para trazer à luz um novo manifesto: o Manifesto da Agilidade de Negócio. No seu prefácio, os autores declaram:
Apesar da extensão e da solidez da discussão, e de muitas inovações substanciais conquistadas na tecnologia em si, o que realmente mudou? Ainda estamos focados em tecnologia, máquinas, técnicas (por exemplo: lean, ágil, capacidades), velocidade, software... ainda estamos escrevendo código. Agora temos bilhões de linhas de código. É flexível? Não. É integrado? Não. É reutilizável? Não. É interoperável? Não. Está alinhado com as estratégias de negócio? Não. É seguro? Não. Está atendendo às expectativas? Não.
O Manifesto da Agilidade de Negócio (traduzido para o Português[1] e publicado recentemente) defende que a agilidade no desenvolvimento de software está longe de entregar a tão esperada agilidade (e os resultados) desejados pelo negócio. Ele define que a Agilidade de Negócio:
...antevê a habilidade de modificar dinamicamente os conceitos e estruturas do próprio negócio para manter a sua relevância no contexto de um ambiente operacional dramaticamente volátil, complexo e incerto. Esta habilidade deve, obrigatoriamente, incluir a reconfiguração dinâmica de implementações, jovens e maduras, manuais e automatizadas, novas e existentes, mantendo a continuidade das operações de negócio enquanto as mudanças de negócio são formalizadas.
O Manifesto é estruturado em torno de um conjunto de Imperativos Gerais de Gestão de Negócio e Princípios que, se adequadamente praticados, podem efetivamente mudar a forma como as organizações funcionam e, por conseguinte, possibilitar a criação de uma operação de negócios ágil e dinâmica. Os Imperativos são:
- Facilitar a Mudança do Negócio – Mudanças para o negócio em tempo mínimo, com custo mínimo, mínima perturbação e o mínimo risco de falha. ("Mudança" inclui mudança no mercado, mudança regulatória, mudança tecnológica, mudança no mercado de trabalho, mudança de estratégia etc.)
- Criar Valor – Valor para Clientes, Acionistas, Comunidade, Posteridade etc.
- Implementar Estratégias de Negócio – Garantir que as Operações do Negócio Implementam as Intenções Estratégicas do Negócio
- Fornecer Segurança – Segurança Física e Cibernética para Pessoas e Bens
- Assegurar a Sustentabilidade – Sustentabilidade no Contexto das Mudanças do Ecossistema do Negócio
- Gerenciar o Risco do Negócio – Risco de Perda de Dinheiro, Clientes, Ativos, Boa Vontade, Crédito, Conformidade etc.
- Incentivar Inovação ou Controle Apropriados – Equilibrar Disrupção versus Otimização
- Permitir Colaboração – Colaboração Interna ao Negócio bem como Externa com Outras Empresas
- Otimizar Recursos – Identificar/Qualificar Alternativas de Investimento e Maximizar a Utilização de Recursos através do Compartilhamento e Reutilização
- Gerenciar Conhecimento – Gerenciar Conhecimento de Negócio para Obter Vantagem a partir desse Conhecimento
Estes Imperativos dão sustentação para 10 Princípios da Agilidade de Negócio, que iremos abordar nas próximas postagens. Aguardem!
[1] Os documentos que compõem o Manifesto da Agilidade de Negócio foram traduzidos para o Português Brasileiro, com a permissão e apoio dos autores, por Fabrício Laguna (Gigante Consultoria), Antonio Plais (Centus Consultoria) e Alexandre M. V. Mello (BPM Experts)
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