As transformações
assombrosas dos
últimos anos no ambiente contábil têm deixado alguns contabilistas
de cabelo em pé, por
conta da crescente complexidade das obrigações governamentais.
Depois de passar anos
de labuta
aprendendo os
assuntos técnicos e legais para se estabelecer profissionalmente, o
contador se deparou há poucos anos com desafios ainda mais
ardilosos. O
projeto SPED e o processo de convergência às normas internacionais
de contabilidade expandiram conceitos. Nem todos que deveriam estão
conseguindo construir as competências necessárias para passar por
essa metamorfose profissional.
Parece
que a Contabilidade está se desgrudando da
burrocracia sem graça e alçando
vôo em
direção ao campo da utilidade da
informação. O esforço monumental de várias entidades ao redor do
mundo para definir padrões universais de relatórios financeiros
confirma essa tendência. A padronização de procedimentos e de
formatações já demonstrou sua eficácia. Basta lembrar do pleno
funcionamento da nota fiscal eletrônica, a qual está dinamizando as
relações empresariais e fortalecendo o agente fazendário. Um
elemento novo já nasceu, se desenvolveu, alcançou a maturidade e
não vai demorar muito tempo para estar entre nós. Trata-se da
tecnologia XBRL (eXtensible Business Reporting Language), que
já é realidade em todo mundo e a partir de 2014 também no Brasil,
através do sistema SICONFI instituído pela Secretaria do Tesouro
Nacional.
O
XBRL é um derivado da linguagem XML, muito utilizada atualmente
devido a sua relativa simplicidade e plasticidade, características
que permitiram a abrupta expansão da internet. O projeto XBRL teve
início em 1998, por conta das pesquisas do Contador norte-americano
Charles Hoffman que percebeu o potencial da linguagem XML para a
divulgação de informações financeiras em formato eletrônico. No
ano seguinte a idéia foi abraçada por instituições privadas de
grosso calibre e por uma das entidades que regulam a profissão
contábil nos Estados Unidos. No ano 2000 foi anunciada a conclusão
da taxonomia para companhias industriais e comerciais americanas e
também a internacionalização do consórcio criado para difundir o
XBRL internacionalmente. A partir de então essa nova tecnologia se
espalhou por meio mundo.
O Laboratório de
Tecnologia e Sistemas de Informações (TECSI) da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP é pioneiro no
desenvolvimento da jurisdição brasileira do XBRL. O Conselho
Federal de Contabilidade e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis
uniram esforços para implantar o XBRL no Brasil. A Portaria CFC n°
38/10 criou uma comissão destinada a criar a jurisdição do XBRL no
nosso país, e credenciou o Conselho Federal de Contabilidade como
representante brasileiro junto ao XBRL internacional. A experiência
de vários países que utilizaram o XBRL como linguagem das suas
centrais de balanços serviu de base para um dos módulos mais
ousados do projeto SPED, que ainda não entrou em operação.
A
taxonomia do XBRL é uma espécie de dicionário que fornece
definições-padrão dos termos técnicos utilizados na preparação
dos relatórios financeiros; também, são definidos os
relacionamentos e hierarquias desses elementos segundo os princípios
de contabilidade geralmente aceitos. Por isso, a linguagem é
extensível de modo a satisfazer as necessidades de jurisdições
contábeis diversas e, apesar da sua flexibilidade, seu código é
bastante seguro. Outra característica marcante é comparabilidade
entre diferentes relatórios financeiros. Há mais de três anos a
SEC disponibilizou na internet o aplicativo “Financial Explorer”
que permite aos investidores fazer de forma rápida e fácil a
análise comparativa do desempenho de diversas companhias. O processo
de padronização contábil mundial conduzido pelo IASB é de
fundamental importância para que toda essa dinamicidade seja
difundida nos quatro cantos do planeta.
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