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O próximo trem

Vi em uma tacada só todos os episódios das duas primeiras temporadas da série "Truques da Mente", da National Geographic - a ideia é muito interessante, discutindo aspectos de como nosso cérebro se insere no cotidiano, de forma leve e divertida.
Em um dos capítulos, o apresentador propõe a várias pessoas que expressem o maior número de significados possíveis para ilustrações propositalmente simples que lhes são mostradas; em regra, os adultos pesquisados não conseguiram fornecer mais que três ou quatro alternativas para as figuras.
No entanto, quando o mesmo teste é aplicado a crianças, esse número dobra ou triplica, assim como a criatividade observada. Sem as amarras de tentar "fazer sentido" para as imagens, a turminha enxerga variações maravilhosas para, por exemplo, duas linhas que abraçam uma bola vermelha, além do tradicional "sanduíche de tomate" que homens e mulheres apontaram quase que de forma unânime.

Em 2007, eu, Cláudia e nossos meninos tínhamos uma viagem agendada há meses para a Europa e, quando chegou o momento de embarcarmos, o contexto em meu trabalho não era dos mais favoráveis - mas, mesmo assim, decidimos tirar nossos quinze dias de férias. Nosso retorno previa um trecho de trem de Paris para Frankfurt (ponto de partida de nosso voo) e as passagens compradas deixavam uma margem muito estreita para a conexão que devíamos pegar em Colônia.
O trem atrasou e os onze minutos já exíguos se mostraram, na prática, impossíveis de serem vencidos; quando paramos na estação, restavam apenas três minutos para tirarmos nossa bagagem do vagão, atravessarmos cerca de dez plataformas e embarcarmos para Frankfurt. Felipe, então com três anos, com toda a razão reclamava da quantidade de casacos que vestia e que, enquanto esperávamos as portas do trem se abrirem, faziam-no suar.
Foi aí que eu comecei a praguejar, falando comigo mesmo:
- Tudo bem, tira casaco, bota casaco, atravessa a plataforma, o trem atrasou, as portas não abrem... vamos perder o trem, perdendo o trem perdemos o avião, perdendo o avião não chego a tempo para trabalhar amanhã...
Felipe e Luísa (ela, com apenas um aninho), não entendiam o motivo de tal preocupação absurda. Olhando no fundo dos meus olhos, Felipe foi genial:
- Qual o problema de perdermos o trem? Se não vamos nesse, pegamos o próximo!
Só então fiz o que era razoável, olhar para o grande painel com os horários da rota Colônia / Frankfurt na minha frente: e lá estavam, para quem quisesse ver, uma partida em meia hora, outra em 45 minutos e outra ainda em uma hora e quinze do momento em que estávamos, todas as opções dando tempo de sobra para tomarmos calmamente nosso voo de volta para o Brasil.
Li em algum lugar - e concordo com a afirmação - que as soluções para nossos problemas são abundantes e até mesmo infinitas na grande árvore do dia-a-dia, apenas elas, geralmente, estão um pouco acima de nossa altura. Quando encontramos uma escada, nunca mais nos preocupamos com qualquer assunto que tivermos de resolver
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