Figura. “A criação de Adão” por Michelangelo (1508-1512)
“No princípio criou Deus os céus e a terra.” (Gênesis, I, 1)
Esse, como a maioria das pessoas tem conhecimento, é o
início do primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, que relata a criação do mundo
por Deus. Será que isso é verdade? Será que aconteceu dessa forma mesmo?
Essas são perguntas que nunca serão respondidas porque este
não é um relato histórico da criação do mundo. Para termos um relato histórico,
precisamos de outras provas além de um texto. Como, segundo a ciência, o
universo existe há aproximadamente 13.000.000.000 de anos, as demais provas,
simplesmente, não existem mais.
Então, o que temos são relatos descritivos da criação do mundo:
temos o relato – seja ele em formato de texto ou de equações – e temos o mundo
como é hoje. Então, comparamos o relato com o mundo e avaliamos se a
representação é válida ou não.
Por exemplo, imaginemos o Otelo de Shakespeare. Otelo tem um
temperamento humano? Sim! O sentimento dele em relação à Desdêmona é humano?
Sim! É possível que um ser humano reaja como ele às provocações de Iago? Sim!
Então podemos concluir que a história é verídica? Não! Não podemos concluir
isso porque para que fosse um relato histórico, precisaríamos de provas além do
texto descritivo. Apenas podemos afirmar que o relato descritivo é coerente.
Figura. "Othello e Desdêmona em Veneza" por
Théodore Chassériau (1819–1856)
Agora, imagine um software. Ou, mais especificamente, um
sistema de informação de uma determinada empresa. Ele nada mais é do que um
relato descritivo da empresa. Precisamos
olhar para o trabalho que é realizado na empresa e avaliar se ele condiz ou não
com o que está implementado no sistema. Temos aqui o famoso jargão: a TI deve
estar alinhada ao negócio.
O mesmo acontece com um modelo cujo objetivo é descrever a
empresa. Esse modelo jamais será um relato histórico da empresa! E, para que
ele seja um relato descritivo, é imprescindível que ao comparar modelo e
empresa não haja divergências. Como, ao lermos o Gênesis, não encontramos divergências
entre a descrição escrita e o mundo conforme o observamos hoje. Assim, deve ser
a Arquitetura Corporativa de uma empresa!
Outro ponto interessante é que seguindo o relato descritivo
do Gênesis, o mundo não foi criado todo de uma única vez. Sua criação ocorreu
em 6 dias. Ao longo dos séculos diversas interpretações foram realizadas sobre
a correspondência desses seis dias no tempo atual, mas o ponto que queremos
destacar é que todos os passos da criação tiveram valor: “e viu Deus que isso
era bom”. (Gênesis, I, 10 – 12 – 18 – 21 – 25)
A construção da Arquitetura Corporativa de uma empresa
também deve ser feita por partes. E o importante é que todas as partes agreguem
valor. Além disso, muitas vezes, é preciso que uma fase tenha tempo para
amadurecer, antes que uma nova fase seja iniciada.
“E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.”
(Gênesis, I, 31)
No sétimo dia, Deus descansou e contemplou sua criação. A
história ainda não estava findada, na verdade, estava começando, mas o mundo
criado estava vivo.
A Arquitetura Corporativa também deve ser assim! Ao término
dos “7 dias” a empresa deve ser capaz de caminhar sozinha e o relato descritivo
realizado, ou seja, os modelos ou sistemas desenvolvidos, devem servir de apoio
nessa caminhada.
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