No
artigo anterior analisamos a evolução do Brasil no índice de desenvolvimento em governo eletrônico (EGDI) e dos seus componentes, no período de 2008 à 2016, com
base no relatório "United Nations e-Government Survey" publicado pela
ONU.
Neste
post iremos avaliar o índice e-participação (e-participation) neste mesmo período, segundo os Relatórios de
Governo Eletrônico da ONU. O e-participação (EPI) é um índice complementar ao
EGDI que usa um modelo de 3 níveis/estágios de participação eletrônica para
medir o engajamento do cidadão, que passa
de um envolvimento mais “passivo” para
um envolvimento mais “ativo”: i. e-information – uso de serviços online
para facilitar o provimento de informações do governo para o cidadão; ii. e-consultation
- engajamento do cidadão em contribuições e deliberações da política pública e
serviços; iii. e-decision-making - empoderamento
do cidadão através de seu engajamento
no processo de tomada de decisão (United Nations, 2014).
Na Tabela 1 podemos observar a evolução do índice e-participação, os 3 estágios (e-information, e-consultation e e-decision-making) e a posição do Brasil no
ranking mundial. O índice EPI é normalizado em relação aos demais países
utilizando o valor “total” obtido
pelo país. De 2008 até 2012, o índice EPI
teve o mesmo comportamento que o índice de serviços online (OSI). O Brasil
ocupava a 23º posição em 2008, caindo para a 42º posição em 2010 e subindo 11
posições, alcançou a 31ª colocação no ranking mundial em
2012. Em 2014, o Brasil subiu 7 posições e em 2016 caiu 13, passando para a 37ª
posição.
Analisando
os 3 estágios do EPI desde 2008 constata-se que o percentual obtido em cada
estágio não segue uma lógica natural. Em 2008 e 2012 o Brasil obteve 50% no
estágio 3 e em 2014 e 2016, o país zerou esse estágio. Em 2012 o Brasil zerou o
estágio 1 e em 2014 alcançou 92,59%. Em
2010, o Relatório não mostrou o detalhamento do índice e-participação do Brasil
(apenas de alguns países selecionados).
Podemos
perceber também que a ONU tem dado uma ênfase maior nesse índice nas últimas
pesquisas e está aperfeiçoando a avaliação dos estágios de engajamento do EPI,
o que pode justificar esse comportamento ao longo desses anos.
Analisando
então o índice e-participação a nível global, nos dois últimos relatórios, podemos
constatar que em 2016, apesar do índice EPI ter melhorado (0,7288) em relação a
2014 (0,7059), o Brasil perdeu 13 posições no ranking. Aparentemente, o motivo da queda está mais relacionado a
melhora dos outros países, pois houve significativos avanços dos países no
índice EPI, por terem expandido as atividades relacionadas a e-consultation e muitos deles avançaram
mais do que 25 posições no ranking do
EPI. De qualquer forma, o cidadão brasileiro ainda precisa participar mais da
tomada de decisão e ter um maior engajamento na política pública para pontuar o
estágio 3 (e-decision-making) e
consequentemente melhorar o índice EPI.
Tabela 1 – Índice de Participação Eletrônica,
seus 3 estágios e posição do Brasil no Ranking
Mundial
Ano
|
Posição no Ranking
|
EPI
|
Total
|
Estágio 1
|
Estágio 2
|
Estágio 3
|
2008
|
23
|
0,4545
|
40,82%
|
40,00%
|
33,33%
|
50,00%
|
2010
|
42
|
0,2857
|
-
|
-
|
-
|
-
|
2012
|
31
|
0,5000
|
40,00%
|
0%
|
43,00%
|
50,00%
|
2014
|
24
|
0,7059
|
63,79%
|
92,59%
|
54,50%
|
0%
|
2016
|
37
|
0,7288
|
73,30%
|
85,30%
|
78,90%
|
0%
|
Fonte:
Elaborado a partir dos Relatórios de Governo Eletrônico da ONU (United Nations,
2008-2016)
Do ponto de vista da política
pública brasileira, o tema “Participação Social” entrou em pauta a partir do Plano
Plurianual 2012, no objetivo estratégico “ampliar o diálogo, a transparência e
a participação social no âmbito da Administração Pública, de forma a promover
maior interação entre o Estado e a sociedade”. Como metas foram enunciadas a
criação de novas formas, linguagens e instrumentos de participação social,
assim como a criação de uma proposta de um Sistema Nacional de Participação
Social . O governo federal lançou o Decreto nº 8.243, em maio de 2014, que
instituiu a Política Nacional de Participação Social (PNPS) com o intuito de
garantir instâncias permanentes de diálogo e incentivar a participação da
sociedade na elaboração, implementação e acompanhamento das políticas públicas. Em conjunto com o PNPS, foi lançado o portal Participa.br que oferece
uma série de ferramentas para participação política digital para cidadãos
dialogarem com o Governo Federal na construção de políticas públicas, através
de fóruns de discussão, consultas públicas, chats etc (Musafir, 2014).
O ambiente do participa.br tem sido usado, por exemplo, para consultas públicas do documento de
referência do ePING e mais recentemente para contribuições dos modelos de
referência que irão suportar as visões do FACIN. Podemos observar na Tabela 1 que o Brasil teve uma grande melhora em e-consultation de 2014 para 2016, passando de 54,50% para 78,90%.
As políticas públicas lançadas em 2016 como a Política de Governança Digital e a Estratégia de Governança Digital (EGD) 2016-2019 também dão ênfase a participação social. A EGD tem como um dos seus três eixos a participação social. Como este tema tem tido bastante relevância nos últimos anos na Administração Pública Federal, esperamos que no próximo Relatório da ONU, o Brasil avance em participação eletrônica, com o cidadão exercendo a sua cidadania e fortalecendo a democracia.
As políticas públicas lançadas em 2016 como a Política de Governança Digital e a Estratégia de Governança Digital (EGD) 2016-2019 também dão ênfase a participação social. A EGD tem como um dos seus três eixos a participação social. Como este tema tem tido bastante relevância nos últimos anos na Administração Pública Federal, esperamos que no próximo Relatório da ONU, o Brasil avance em participação eletrônica, com o cidadão exercendo a sua cidadania e fortalecendo a democracia.
Referências
Musafir, Valéria
E. N. (2014). O Papel Estratégico do Serpro no Desenvolvimento do Governo Eletrônico
Brasileiro. Brasília, 2014, Trabalho de Conclusão do Curso de Pós Graduação em
Gestão Pública com Foco em Negócios. Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade. Universidade de Brasília. Brasil.
United Nations (2008). United Nations
E-Government Survey 2008. New
York: UN.
United Nations (2010).
United Nations E-Government Survey 2010. New York: UN.
United Nations (2012). United
Nations E-Government Survey 2012. New
York: UN.
United Nations (2014).
United Nations E-Government Survey 2014. New York: UN.
United Nations (2016). United Nations E-Government Survey 2016. New York: UN.
Pois é Valéria, estamos engatinhando ainda nesta questão. O que me pergunto é se esse índice não é em função, principalmente, do baixo nível de de e-gov na maioria dos municípios brasileiros (hoje perto de 5.570). Afinal é onde tudo acontece na vida do munícipe. Muito bom seu artigo!!!
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