Com certeza você já
ouviu falar em IOT, a sigla de Internet of Things ou Internet
das Coisas. E provavelmente já viu notícias divulgando eventos
sobre o assunto, assim como iniciativas e planos
de governos promovendo essa nova onda. Mas provavelmente não sabe
bem como essas “coisas” vão afetar você ou seu trabalho. E nisso,
com certeza, você não está só.
Neste post
falo da IOT na perspectiva dos processos de negócios, focando nos
impactos nos modelos e processos de negócio das organizações.
Afinal, espera-se que a IOT possibilite às organizações aumentar
sua flexibilidade, eficiência e agilidade, o que, sem dúvida, não
acontecerá sem muitas mudanças.
Provavelmente você já sabe que a IOT é uma rede de objetos interconectados através de
uma rede IP. Mas qual a novidade nisso? Já faz muito tempo que você
usa diariamente computadores, tablets e celulares interconectados em
redes IP. A diferença, é que esses objetos têm como função o
processamento e a comunicação de informações, mas não interagem
diretamente com o mundo físico. Na IOT, os objetos conectados
interagem com o ambiente físico, seja como sensores que capturam
informações do ambiente, seja como atuadores que alteram variáveis
desse mesmo ambiente.
A IOT não é um
projeto de uma possível rede futura, já existem muitas
aplicações dela, mesmo que ainda de forma restrita e abrangência
limitada. Como já disse o escritor William Gibson “… o
futuro já chegou, apenas ainda não está bem distribuído”.
Estima-se que existam mais de 6 bilhões de dispositivos
conectados em 2016, e de que até 2020 eles serão mais de 20
bilhões. Aplicações residenciais
com luminárias, sistemas de alarme, termostatos e aspiradores
conectados existem já faz algum tempo, sem falar em serviços com o
Waze que transformam seu
smartphone em um dispositivo IOT. Mas o maior impacto
econômico provavelmente acontecerá nas interações de negócio
entre organizações, e não é por menos que ela é um dos
principais componentes de iniciativas como a Indústria
4.0 ou Internet
Industrial, que buscam promover a digitalização das
organizações e processos industriais.
Independentemente
do mercado de consumo ou industrial, o
uso de
IOT implica no processamento de grande
volume de dados gerados
pelos dispositivos. Mas,
o valor real não
está nos dados em si mas
no que pode ser feito com eles. É
necessário
transformá-los
em informações
que levem a ações (actionable).
Sem isso, os
dados significarão
apenas mais
custo para a organização
em vez de uma vantagem competitiva. E
para alcançar
seu potencial de valor os dados da IOT devem estar conectados com os
processos e regras de negócio.
Por
exemplo, quando
todos os envolvidos em
um processo logístico podem
se comunicar continuamente é
possível maximizar a realização
das entregas
e,
ao mesmo tempo, minimizar custos e
prazos.
Mas apenas
a comunicação e intercambio de dados
não será
suficiente se não existir inteligência para otimizar os agendamentos e a alocação de
recursos, e
os resultados poderão ser ineficazes se não forem atendidas as
definições dos processos e regras de negócio.
A diversidade de dispositivos na
rede IOT implica em múltiplas interfaces para interação entre pessoas e “coisas”
interconectadas, reduzindo as interações manuais atuais e
mudando a forma como os usuários interagem
com os sistemas e processos. O
uso de dispositivos
sensores
e
atuadores,
alavancados
por tecnologias de visualização e
localização, possibilitam ligar
modelos
virtuais ao mundo físico,
conectando
o mundo virtual ao mundo real.
Uma classificação simplificada divide os
dispositivos conectados
em 3 tipos:
-
Simples – dispositivos que recebem dados do ambiente (sensores) e os transmite a outro nó da rede, ou recebem dados da rede para exercer uma ação sobre o ambiente (atuadores). Nos dois casos, o dispositivo simples tem baixa, ou nenhuma, capacidade de processamento e decisão (por exemplo: termômetros, detectores de movimento, chaveadores, etc.);
- Semi-inteligentes - dispositivos que além de atuar como sensores/atuadores possuem alguma capacidade local para armazenar e processar informação;
- Inteligentes – dispositivos com capacidade computacional suficiente para processar regras, tomar decisões e interagir com pessoas e máquinas;
É
como se dispositivos simples fossem os olhos, ouvidos e mãos da
rede, enquanto que os com capacidade computacional
correspondem ao cérebro. Mas, diferentemente dos organismos físicos,
na rede IOT é possível distribuir capacidade computacional nas pontas, o que significa descentralizar a inteligência. E a
medida que cai o
custo
de
embutir
capacidade computacional nos dispositivos, mais inteligência pode
ser
deslocada para as pontas.
Deslocar inteligência na rede possibilita distribuir a coordenação
e
execução de atividades dos
processos, assim
como
a
aplicação de regras
de
negócios.
Em
outras palavras,
acrescentar inteligência nas pontas implica em capacitar as
“coisas” da IOT para
atuar
como
agentes ativos
do
processo, que podem
identificar padrões nos eventos e
realizar tomadas de decisão para executar as ações previstas pelos
processos e regras de negócios. A IOT deverá ser mais
disruptiva para os processos de negócio do que estão
sendo os
smartphones,
que
possibilitam
que
o
aplicativo
móvel
substitua
a web
como principal ponto de acesso aos
sistemas da organização.
A
integração
de dispositivos inteligentes e conectados nos mais diversos produtos
físicos levará a modificações significativas nos processos de
negócio, como
já sinalizam alguns exemplos:
-
Um hospital utiliza dispositivos médicos conectados (ex.: medidores de pressão, eletrocardiógrafos, monitores de glicose, bombas de insulina,…) para que a equipe médica possa avaliar remotamente os sinais vitais dos pacientes e decidir se devem examinar o paciente pessoalmente ou instruir cuidadores sobre o tratamento mais adequado;
-
A Airbus usa dispositivos laser para projetar imagens na fuselagem de aeronaves para orientar o trabalho de técnicos na linha de montagem. Usando uma combinação de tablet e sensores, os técnicos acessam um modelo 3D com aplicação de realidade aumentada, visualizando o modelo na perspectiva da sua localização no chão de fábrica e complementado com dados atualizados da produção;
-
Na Feira de Hannover, em 2014, a Siemens demonstrou uma linha de montagem real associada com um modelo virtual 3D usado em ambiente de simulação. Sensores na linha de montagem física enviam dados de movimentação que atualizam a simulação em tempo real;
-
A Indústria 4.0 prevê uso de memória nos produtos industriais, possibilitando armazenar nos produtos dados de configuração, instruções de trabalho e histórico de produção. Produtos “inteligentes” poderão informar diretamente as células de produção sobre o que precisa ser feito;
-
Aplicações de manutenção preditiva para aumentar a eficiência e qualidade operacional, utilizando dispositivos sensores para análise de temperatura, vibrações, som e outras variáveis possibilitam a detecção de problemas antes que eles resultem em falhas nos equipamentos.
Além de dar origem a novos modelos de negócios, a IOT poderá também promover a renovação de modelos existentes. Um exemplo é a
“servitização”,
denominação que identifica a tendência de fabricantes de
equipamentos passar de fornecedores de bens de capital para
fornecedores de serviços. O conceito não é novo, mas ganha folego com a capacidade da IOT que possibilita ao fabricante cobrar o cliente
conforme o uso do produto e ofertar serviços adicionais sob demanda.
Um equipamento pode ter sua
capacidade, ou desempenho, controlada
por software, de modo que o fabricante
pode oferecer aos
clientes opções para aumentar o nível de desempenho por um
período determinado. Organizações
tradicionais como GE e Rolls-Royce já oferecem turbinas de avião
como serviço, cobrando por hora de vôo.
Mas
junto ao potencial
aumento de receita, agilidade e reduções de custo, a
IOT traz uma
complexidade inerente ao grande número
de pessoas, sistemas e
“coisas” que devem
ser habilitados a
interagir em situações
e contextos dinâmicos. Além
de mudar a forma de
utilizar sistemas e
tecnologias existentes é
necessário introduzir
novos métodos e
tecnologias. As
soluções de BPMS (Business
Process Management Suite) convencionais atuam como
controle centralizado que coordena a
execução do
processo do início
ao fim. A
introdução
de dispositivos IOT
no
processo de negócio abre
a possibilidade de uma atuação mais colaborativa entre os agentes
do
processo, que
podem
responder
diretamente aos
eventos detectados, sem
esperar o
acionamento
pelo BPMS.
Ou
o BPMS pode combinar regras
de negócio com algoritmos analíticos para reconhecer a ocorrência
de padrões nos eventos e
dados produzidos
pelos dispositivos conectados e assim acionar pessoas, sistemas e
outros dispositivos para realizar ações no processo.
Além
das mudanças nos
processos de negócio, a
introdução da IOT deverá ser um desafio especial para as áreas de
TI e Engenharia/Operações. Gerir centenas ou milhares de
dispositivos conectados é um desafio operacional, principalmente quando esses
dispositivos estão embutidos em outros equipamentos. A
IOT será também um desafio para as divisões convencionais de
responsabilidades e atuação entre as áreas de TI e
Engenharia/Operações nas organizações industriais. A convenção
atualmente mais comum é que a TI é responsável pela infraestrutura
de hardware e software ligada aos sistemas de informação da
organização, enquanto que a Engenharia/Operações é responsável
pela infraestrutura diretamente associada ao processo produtivo. No contexto da IOT, a estrutura
gerenciada pela TI está fortemente interconectada com a
infraestrutura de produção da Engenharia/Operações, através das
máquinas, equipamentos e dispositivos distribuídos nas áreas e
linhas de produção. É possível que gradualmente essas áreas
sejam unificadas, como já vimos acontecer em operadoras de telecomunicações.
Se
você tiver interesse em saber mais, segue uma lista de referências com
informações mais detalhadas e melhor
apresentadas
sobre os assuntos tratados aqui:
-
BPM and IoT: Transformation at the Digital Interface to the Physical World, BPM.com, Enabling the digital enterprise, 2016
-
Enterprise IOT, by D.Slama, F. Puhlmann, J. Morrish & Rishi M. Bhatnagar – O'Reilly
-
How smart, connected products are transforming competition, Michael Porter & James Heppelman, Havard Business Review, Nov. 2014
-
BPM and IOT: The Signal of True Disruption, Carlos Soto, Redmond Media group, Wonderware by Schneider Eletric
-
Towards a definition of the Internet of Things (IoT), IEEE Internet Initiative, 2015
-
The Fourth Industrial Revolution: what it means and how to respond, Klaus Schwab, World Economic Forum, 2016
-
The NFL Is Finally Tapping Into the Power of Data, Joe Lindsey, Wired Jan 2016
-
Unlocking_the_potential_of_the_Internet_of_Things_Executive_summary, McKinsey Global Institute, McKinsey & Company, 2015
E
até o próximo post
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