Em post anterior falei sobre uma nova forma de modelagem de processos baseada no uso
dos dados de execução do processo. Hoje falo de uma opção ainda pouco conhecida
para pensar e modelar um processo novo ou já existente.
A
prática convencional para modelagem de processos de negócio assume que o
processo consiste na execução de sequências pré-definidas de atividades
conhecidas. Mesmo considerando que as sequências de execução podem variar entre
ocorrências distintas de um mesmo processo, todas as as sequências possíveis
são previamente determinadas pelo desenho do processo. Processos desse tipo
podem ser descritos com relativa facilidade utilizando-se desenho baseado em
fluxogramas de atividades, no qual as atividades são representadas por
retângulos interligados por linhas direcionadas que definem as sequências de
execuções possíveis. Ao longo do tempo, foram utilizados diversos padrões de
notação gráfica, tais como fluxogramas de atividade, IDEF (Integrated Definition Methods), EPC (Event-driven process chain) e outros. Atualmente, predomina a notação BPMN (Business Process Model and Notation), adotada
no exemplo da figura abaixo para descrever em alto nível um processo
administrativo genérico:
Processos
que encaixam nesse tipo de modelagem são comumente chamados de estruturados, ou
burocráticos, porque possuem alto nível de previsibilidade. O sequenciamento de
execução das atividades segue estritamente os caminhos previstos no desenho do
modelo, mesmo eventuais desvios e exceções devem estar previstos no modelo. O
trabalho passa de uma atividade para outra com base na relação entre elas que
foi previamente estabelecida no modelo do processo. Os executantes das
atividades não têm controle sobre a sequência de execução do processo, no
máximo podem influenciar a ativação de um desvio ou o tratamento de uma exceção
prevista. Nesses processos, o foco é no trabalho previsto para ser feito,
o contexto é considerado conhecido e de pouca incerteza.
Mas
existem muitos processos de negócio que não se enquadram no modelo estruturado.
Para esses processos não é desejável, ou mesmo possível, restringir as
sequências de execução possíveis a um conjunto limitado e pré-determinado.
Nesse tipo de processo, o sequenciamento de execução das atividades é baseado
na autonomia dos executantes que podem definir qual a próxima atividade a ser
executada, baseados no conjunto de atividades disponíveis e em informações
sobre o estado do processo. A variedade de caminhos que podem ser seguidos pode
ser muito alta, fazendo com que os diagramas de atividades se tornem desenhos
complexos e ilegíveis devido ao grande número de interconexões entre as
atividades. A figura abaixo ilustra essa situação com o exemplo de um processo
onde apenas uma parcela dos caminhos possíveis é apresentada:
Processos
desse tipo são conhecidos como case-driven, ou processos orgânicos, e
frequentemente são associados a processos com atividades que envolvem
conhecimentos especializados. Neles, o nível de incerteza não é baixo e o foco
é no trabalho que pode ser feito para
alcançar o resultado. E dada as dificuldades para se modelar processos
orgânicos nos moldes dos processos estruturados, muitas propostas alternativas
surgiram para tratar mais adequadamente esse tipo de processos, dando origem ao
tema chamado Gestão de Casos.
Algumas
das principais características de um processo de negócio que será melhor modelado
como Gestão de Caso são:
•
todas as informações do processo devem estar disponíveis em cada passo, para
que os participantes vejam todo o estado do processo e não apenas as
informações diretamente associadas à atividade atual;
•
a definição da próxima atividade a ser executada é responsabilidade do
executante da atividade corrente. Todas as atividades do processo, ou um
subconjunto relevante, estão disponíveis para serem escolhidas como a próxima
atividade a ser executada;
•
em cada passo, cabe ao executante da atividade a decisão de concluir sua
participação e encaminhar o tratamento do caso para o passo seguinte, ou
continuar executando uma outra atividade disponível ;
•
todas as informações do processo podem ser atualizadas em cada passo, e não apenas
aquelas diretamente associadas à atividade sendo executada. Ou seja, qualquer
informação do processo pode ser registrada assim que disponível, não apenas em
atividades específicas;
Em
contrapartida à maior liberdade e responsabilidade na execução das atividades,
os participantes do processo precisam ter, em geral, mais conhecimento e
iniciativa do que os participantes do processo estruturado.
Assim
como fez com a BPMN, o OMG (Object
Management Group) definiu um padrão de notação para modelagem de processos
na forma de Gestão de Casos, é a CMMN (Case Management Model and Notation).
O
mais interessante é que a CMMN e a BPMN são independentes, porém podem ser
combinadas em um mesmo diagrama. Ou seja, com esses padrões é possível
construir modelos de processos combinando simultaneamente os dois tipos de
comportamento e características.
Mas
este é assunto para um próximo post.
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