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Um pouco mais sobre o Susto e a Interoperabilidade








Ainda sobre as considerações do artigo “Susto e Oportunidade são, realmente, excludentes?”, que teve como fundo a matéria publicada na revista Veja de 29 de maio, reforço a questão da taxonomia e trago à discussão também a ontologia, visto a afirmação quanto a “uma das características mais intrigantes do país é a falta de código, de conceito”.  São sobre as iniciativas neste sentido que pretendo abordar. 

Um de meus companheiros de trabalho, que possui uma competente visão integradora, Gleyner Novais colocou a lupa no artigo e foi além: “nos falta um modelo ontológico de dados e informações de governo (suportados por um glossário normalizado somado a metadados de negócio), onde a taxonomia cumpre o papel de fachada de apresentação (design) para a comunidade (Cidadãos e instituições)”. 

Como eu, ele também vê as iniciativas em curso como uma oportunidade para dar publicidade aos serviços eletrônicos baseados em padrões de interoperabilidade, promovendo agilidade na obtenção de informações, na interpretação e no co-relacionamento das informações dentro do foco analítico desejado, porém também compreende que o esforço no sentido do “entendimento comum das coisas” ainda não alcança o estágio necessário à interoperabilidade. 

Luciane Paula Vital e Ligia Maria Arruda Café, em seu trabalho sobre Ontologias e taxonomias: diferenças, reforçam que “a necessidade de informações precisas e confiáveis no âmbito corporativo vem de encontro com a qualidade da recuperação, tornando-se um grave problema, pela dificuldade de precisão. Apresentam então, como dois sistemas de representação do conhecimento, as ontologias e as taxonomias”. 

Nesse sentido, ressaltam que as taxonomias trabalham no sentido de organizar a informação e/ou conhecimento, em relações hierárquicas entre os termos. Já as ontologias, buscam estabelecer relações semânticas entre conceitos, em forma de redes conceituais, próximas da estrutura que trabalha a mente humana. 

Evidências quanto ao uso da taxonomia são os padrões trabalhados pelo segmento Áreas de Integração para o Governo Eletrônico, na Arquitetura e-PING de Interoperabilidade, em especial  o eXtensible Business Reporting Language (XBRL), o Statistical Data and Metadata eXchange (SDMX), o Strategy Markup Language (StratML) e o LexML, utilizados internacionalmente, respectivamente, para definição e intercambio de dados financeiro-contábeis, dados e metainformação estatística de planos e relatórios  estratégicos e de desempenho e informações legislativas e jurídicas.

São padrões especialistas que, podemos entender, trazem em si a visão de processos que lhes permite desenvolver uma taxonomia própria para integração dos dados.  Há dois trabalhos, entre vários, que podem ser nominados como referência. Em relação ao XBRL destaco o que é conduzido pela Secretaria do Tesouro Nacional, do Ministério da Fazenda; já em relação ao LexML, destaco outro do Senado Federal. 

Também para aqueles onde ainda não foi desenvolvida uma iniciativa semelhante existe o padrão Modelo Global de Dados (MGD), que tem por objetivo integrar dados e processos em uma única visão que, compartilhada entre os envolvidos, viabiliza uma desambiguação contínua, a integridade dos dados ao longo do tempo de construção do modelo e o amplo reuso no desenvolvimento de soluções, ou serviços eletrônicos. O MGD é aplicado por diversos órgãos de Governo, tanto em nível de macroprocessos que perpassam várias estruturas, como o Macroprocesso de Planejamento, Orçamento e Finanças, como em situações restritas a uma única instituição, podendo ser citada a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária. 

Quanto a ontologia, o Vocabulário Controlado do Governo Eletrônico (VCGE) é a iniciativa em curso no governo desde 2004 com objetivo de “classificar qualquer conteúdo de informação (documentos, bases de dados, mídia eletrônica, documentos em papel, etc) que não seja classificado outra forma mais específica de indexação. O VCGE é feito para ser consultado pelo público geral e seu processo de indexação deve ser feito por pessoas que não são profissionais especializados (biblioteconomistas, arquivologistas, etc).” 

O VCGE também é tratado pela Arquitetura e-PING de Interoperabilidade, no âmbito do segmento Organização e Intercâmbio de Informações.  Recentemente passou por uma revisão de conteúdo e mantém uma estratégia de construção voluntária pelas partes interessadas. 

Penso que o estágio necessário à interoperabilidade seja alcançado no momento em que taxonomia e ontologia possam se integrar, o que não está longe, porém requer um entendimento comum pelos gestores públicos envolvidos e o conseqüente investimento de esforços em um único sentido.  Não tenho dúvidas que é uma discussão necessária e que deva ser orquestrada, de forma a evitar perda de foco e dispersão de esforços.  Esta é uma outra oportunidade, um daqueles desafios da interoperabilidade a serem empreendidos em nível de governo, com reflexos para a sociedade como um todo. 





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Comentários

  1. Esse artigo deixa claro que o Grupo de Trabalho - Áreas de Integração para o Governo Eletrônico e seus Subgrupos estão alinhados com as demandas que estão surgindo, e em contrapartida mostra também que ainda a muito a se fazer.

    A interoperabilidade é desafio que o governo precisa alcançar para prestar cada vez melhores serviços a sociedade, como o artigo cita não estamos longe de alcançar.

    Precisamos de cada vez mais pessoas interessadas em discutir os padrões para conseguirmos alcançar melhores resultados.

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  2. Sim, Isabella, não há como empreender iniciativas deste porte sem que a sociedade (cidadãos, mercado e governo) esteja interessada em participar diretamente, seja das discussões, das demandas, das implementações ou das avaliações.

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